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CUIDAR DE QUEM?


Cuidar, é fundamental cuidar do semelhante. Quando pensamos em cuidado, imaginamos alguém que sofre. A pessoa que necessita de cuidados é uma pessoa que está passando por um momento delicado de sua vida. Encontra-se em um momento de crise. Toda crise envolve sofrimento. Ela é um perigo e uma oportunidade. Esta acontece no tempo e no espaço. Sendo assim, cuidar da pessoa que está em crise é acolhê-la e ser suporte para ela.
Cuidar é amar. É agir. “Deus é amor. Amar, segundo os textos sagrados, é fazer aos outros aquilo que desejaríamos que fosse feito conosco numa situação semelhante.” Portanto, cuidar é manifestar ao outro o que se deseja para si mesmo.
Cuidar é acompanhar, e acompanhar, é um ato de compaixão. É fazer-se presente na caminhada da vida ao lado daqueles que amamos. Sim, cuidar é acompanhar e “acompanhar um ente querido à beira da morte é uma tarefa que diz respeito a toda gente, uma questão de solidariedade acima de tudo.” Contudo, é preciso ter cuidado para não perder o foco e não inverter as coisas, pois é muito comum ver que: “As tarefas acabam por se tornar mais importantes do que as pessoas.” Não podemos deixar isto acontecer.
Cuidar é um ato de amor, mas quem precisa de cuidado?
No processo do cuidado é fundamental cuidar de si próprio. É essencial perceber-se e entender-se para depois dirigir-se ao outro e envidar cuidado a ele. Para cuidar dos outros é preciso cuidar de si mesmo, da sua própria vida. Uma das advertências de Paulo para o jovem Timóteo foi: Tem cuidado de ti mesmo. Perceba-se e veja suas próprias feridas. “Tornar as nossas próprias feridas numa fonte de cura não requer, por conseguinte, uma partilha dos sofrimentos pessoais superficiais, mas um desejo constante de encarar a dor e o sofrimento pessoal como procedentes do âmago da condição humana que todos os homens partilham.”
É preciso cuidado integral. Não cuidamos apenas da pessoa necessitada, mas de todo o entorno à sua volta. A verdade é que, quando alguém dentro da estrutura familiar necessita de apoio e cuidado, toda a família adoece. Contudo, nossos olhos ficam postos apenas no núcleo, naquele que adoeceu e esquecemo-nos que todos carecem e necessitam de cuidados.
Cuidar de quem?
Devemos cuidar de todos, porque todos são interdependentes e diante da fragilidade de um membro de sua estrutura familiar, todos se encontram fragilizados e carentes, por mais fortes que demonstrem ser.
Cuidar é muito mais que buscar cura. Cuidar não é trazer a solução do problema. É tornar-se companheiro de viagem. É caminhar lado a lado e “mostrar às pessoas os seus próprios recursos ao invés de falar apenas sobre as suas feridas.” É dar sentido de vida.
Todos precisam ser cuidados. A melhor forma de cuidar daquele que sofre é trazer os seus para perto e mesmo entendendo que todos sofrem é fazer que a vida se manifeste e brote ali, apesar da dor do sofrimento que se viva com sentido e se tenha sentido de vida. Médicos não são reparadores da vida. “Os profissionais médicos concentram-se em reparar a saúde e não em dar sustento à alma. No entanto – e é este o doloroso paradoxo -, decidimos que devem ser eles a definir em grande parte como viveremos a nossa etapa final. Há já mais de meio século que tratamos as provações da doença, do envelhecimento e da mortalidade como preocupações médicas. Tem sido uma experiência de engenharia social colocar os nossos destinos nas mãos de pessoas mais valorizadas pela proeza técnica do que pela sua compreensão das necessidades humanas.” Portanto, sem descuidar da parte médica é preciso cuidar do ser e o que a pessoa mais necessita é companhia, amor e acompanhamento.
É preciso cuidar, mas cuidar do todo e não apenas daquele que jaz necessitado. Até porque, todo o seu entorno sofre e carece de cuidado. E é aqui que reside o perigo. O sofrimento geral pode trazer uma apatia e esta pode trazer a morte em vida. “Morrer pode ser triste, mas morrer uns para os outros antes de morrer é muito mais triste. É isto que sucede quando, tanto as palavras como o silêncio impõem seu lado trágico.” É fundamental ser agentes de vida e se assim formos, mesmo diante do sofrimento a pessoa cuidada estará bem.
Cuidar é preciso. Sim, necessito cuidar primeiramente de mim, depois daquele que sofre, mas depois, devo entender que todo o seu entorno necessita de cuidado, porque todo ele sofre e é fundamental que no diálogo, sejamos cuidadores feridos e que na troca das nossas experiências a vida se manifeste em beleza e graça.

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