Avançar para o conteúdo principal

CUIDAR É CONSOLAR


O sofrimento faz parte da vida. É impossível não sofrer. Quando enfrentamos a dor, a tristeza, parece que o mundo vai desabar sobre nós. O fardo parece ser insuportável. Na hora da angústia nos encaramujamos, fugimos de tudo e de todos. Contudo, desejamos que os outros estejam perto. Nos isolamos, mas não queremos estar em solidão. A atitude que tomamos é por causa do medo que estamos sentindo e também por não estar suportando tamanho fardo.
A pessoa que está em sofrimento, que precisa ser apoiada está com a sua vida em suspenso. Quem cuida, deve entender esta realidade. Precisa compreender a fragilidade do outro. Acima de tudo, assumir que não tem as respostas para os dilemas que o outro enfrenta. Quem cuida, se faz presente para acompanhar e neste processo, inicia-se o consolo.
Cuidar é consolar. Consolar é fazer-se presente em silêncio. É dividir a carga. É compartilhar a dor, o sofrimento. É se fazer presente e partilhar a vida e o momento que o outro vive. É aliviar a dor. Consolar é permitir que o outro se desafogue.
Cuidar é promover consolo, mas consolar é agir em favor do outro. É estar presente e o consolo envolve todas as outras práticas do cuidado. Consolar é promover alívio. Quem consola acaba sendo revigorado e consolado. É justamente aqui que precisamos ouvir as palavras de Francisco de Assis em sua oração que diz:
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
Cuidar é consolar e para consolar, há momentos em que as palavras se fazem necessárias. Contudo, se as palavras são necessárias é fundamental entender que elas precisam ser verbalizadas de forma delicada. As palavras devem fazer sentido. Consolar com palavras é uma arte. Antes de falar é essencial saber escutar para que se saiba o que dizer e como dizer. As palavras devem ser úteis, precisam dar sabor aos que as ouvem. Elas precisam preservar e conservar a esperança naqueles que estão sendo cuidados por nós.
Consolar é simplesmente estar presente e permitir que a pessoa cuidada tenha condições de expressar o que vai no seu ser. Sim, ela precisa expor seus medos, suas angústias. É essencial deixar que a pessoa cuidada expresse seus sentimentos, que ela chore e liberte tudo o que a está causando sofrimento. Este ato de dar permissão é libertador. A pessoa partilha sua dor, seu sofrimento e apreensão e assim, tranquiliza a alma.
Consolar envolve o toque. Sim, é preciso tocar. É fundamental abraçar. Consolar é permitir que o outro sinta o calor humano. Perceba sua presença e sinta-se acolhida e amada. O abraço, por mais simples que possa parecer, é terapêutico e consolador. Quem cuida precisa ter a coragem de abraçar, de se mostrar presente. É dar de si mesmo e acolher o outro junto assim.
Consolar é promover conforto ao outro. É levar alívio para a dor existencial que se manifesta no ser. É manifestar bondade. É agir com bondade em relação ao outro. Cuidar é consolar e consolar é confortar e manifestar bondade e tudo isto é um ato de amor.
Cuidar é uma arte e a arte do cuidar é envolvente e é fundamental perceber que, quem cuida, deve se fazer presente e entender que o outro muito além do cuidado físico, deseja o cuidado psico-emocional e é neste momento que o consolo entra em vigor. Cuidar é consolar e consolar é promover alívio e sossego ao próximo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

APENAS O EVANGELHO E NADA MAIS QUE O EVANGELHO

José Régio tem um poema que me revejo cada vez mais nele. “Não vou por aí”. Confesso que esta é a declaração que faço para alguns que se dizem líderes religiosos, mas que não passam de comerciantes da fé. É impressionante o marketing que é feito e como há gente que aceita e segue os que se apresentam com títulos, ou até mesmo, que rasgaram o título e desejam apenas ser tratados por seus próprios nomes. Não vou por aí. Não sigo ideias malucas e promessas de prosperidade, onde apenas os líderes enriquecem, e o simples membro continua com sua vida regrada, apertada, para não dizer com a corda no pescoço. Não dá para seguir quem promete bênçãos e vende a fé e viaja em jato privado que está no nome da igreja ou de uma instituição, mas o membro comum não tem o direito de sequer entrar no tal avião que afinal, é da instituição que ele é membro e sendo assim, também um dos que tem direito de usufruir de tal bem. Não vou por aí e não tem como ir. Não dá para seguir líderes que tentam de

Aprendendo com as Mulheres

A igreja é um projecto divino. É um projecto unificador. Nele todos somos iguais, pois como afirmou Paulo: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.”(Gl 3.28). A igreja que vive esta realidade está disposta a aprender com todos os seus irmãos. Está disposta a valorizar os dons que o Senhor concedeu a determinado irmão para a edificação do corpo, sem importar se este é homem ou mulher. Tenho consciência que estou numa igreja assim, uma igreja que valoriza tudo e a todos sem fazer distinção se é homem ou mulher. Sendo assim, quero partilhar as lições que tenho aprendido com as mulheres, tanto na igreja como na Bíblia. No dia-a-dia, aprendo com as mulheres o facto de parar para estar aos pés do Senhor Jesus. É impressionante olhar para a Bíblia, principalmente no Novo Testamento, e ver as mulheres que se prostraram aos pés de Jesus. Elas pararam para adorá-Lo e para ouvirem os seus ensinamentos. Elas apenas queria

COMO DESTRUIR OS FILHOS

Filhos são um desafio. Eles são o grande investimento que alguém pode fazer. São a nossa continuidade e extensão do nosso ser. Filhos são um projeto de vida e para toda vida. O poeta Vinícius de Moraes escreveu: “Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-los? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como os queremos!” [1] Filhos são desejados, sonhados e amados. Filhos são o maior investimento que podemos fazer, mas filhos são um desafio para cada um de nós. Pensando no poema de Vinícius vejo as declarações de Bauman (Bauman, 2006) que diz: “Os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio pode fazer ao longo de toda a sua vida. (…) ter filhos é, na nossa época, uma questão de decisão, não um acidente - o que aumenta   a ansiedade. Tê-los ou não é, comprovadamente, a decisão de maior alcance e com maiores consequências que existe e, portanto, também a mais angustiante e stressante. Ter filhos significa avali