A vida é uma caminhada.
Viver é muito mais que existir. “Viver, porém, sempre significa ousar, aceitar
e enfrentar o imprevisível, na esperança de uma vida realizada, mesmo quando
não se tem uma noção concreta.” É lutar e perceber que na jornada da vida,
aprendemos que viver é receber terríveis golpes baixos, compreender que as
adversidades fazem parte da vida e o fato mais comum é que geralmente
conseguimos ultrapassá-las.
Na caminhada da vida,
somos chamados para acompanhar e partilhar a vida com os demais. Existimos não
para nós, mas para os outros. Existimos para as nossas relações. No cerne da
nossa existência está o cuidar. Cuidar de nós próprios e dos demais. Portanto,
cuidar é viver e viver é cuidar. É neste cuidado que acompanhamos uns aos
outros e aprendemos que caminhamos cada dia para o nosso acorde final. “Toda a
vida é movimento para a morte. Toda morte começa com a vida e termina com ela.
Todo nascimento marca uma corrupção. Ninguém pode deter este movimento, cuja
definição está na sua própria inelutabilidade e irreversibilidade.” Enquanto
este momento irreversível não chega é essencial partilhar a vida.
Cuidar é acompanhar e o
melhor acompanhamento é o diário. É na troca das experiências. É na jornada da
vida, mesmo quando parece-nos que está chegando o último acorde da sonata da
nossa vida.
Acompanhar é dedicar
tempo e é fundamental perceber que chega um momento na vida que tudo o que o
acompanhado tem é o tempo. Para quem cuida e acompanha, parece que tudo segue
seu ritmo normal, para quem sofre, anseia pelo tempo e mesmo não tendo todo
tempo do mundo, deseja que o tempo não passe, mas também deseja que ele voe
para poder ter mais um encontro com aqueles que ama.
Cuidar é perceber seu próprio
sofrimento, a sua própria dor. É ter toda a sua vida virada ao contrário.
Contudo, cuidar acompanhando é dar vida em amor. É preciso entender que:
“Quando uma família é confrontada com a doença de um dos seus membros, todos os
elementos vão sofrer ansiedade e stress. Ficam preocupados com a gravidade da
doença, o sofrimento e possível morte. A doença de um dos membros vai
converter-se em doença familiar e todos sentirão a influência do sofrimento e
da dor. Assim, o início da doença constitui uma situação de mudança para ao
sistema familiar, pois implica na família um processo de reajustamento da sua
estrutura, papéis, padrões de comunicação e das relações afectivas dos seus
membros.” O acompanhamento se faz com a dor pessoal e a partilha da dor do acompanhado.
Somos companheiros de
estrada. Companheiros de vida e na vida vamos cuidando uns dos outros. E neste
acompanhamento, percebemo-nos sofredores também. Sim quem cuida sofre. Cuidar é
acompanhar e acompanhar implicar sofrer. Sendo assim, seria mister que: “Nós,
os que sofremos, deveríamos irmanar-nos.”
Cuidar é acompanhar e
acompanhar é partilhar a vida. É aqui e agora, não podemos deixar para amanhã.
É essencial viver hoje e fazer a vida acontecer no presente através do cuidado.
Acompanhar é partilhar o ser, a nossa essência e o momento de fazê-lo é agora.
Lembre-se do seguinte: “A morte tem algo definitivo. Ela mostra o quanto
perdemos e deixamos passar no convívio com as pessoas que amamos. Vivemos com
elas ou ao lado delas, mas não falamos sobre aquilo que preenche nossos
corações.” Portanto, acompanhar é verbalizar e dizer ao outro tudo o que vai no
nosso ser. É na jornada da vida que devemos dizer que amamos. É no presente que
precisamos entregar as flores. Elas devem ser oferecidas em vida para que,
quando o último acorde for dado, a tristeza seja pela separação e nunca por
remorso.
Acompanhar é estar perto e
é nesta proximidade, no momento crucial, chorar de amor e pelo amor.
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