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Quando o amor vira paixão


Este é um relato breve, mas verdadeiro de quando o amor assume a forma de paixão. Sim, a paixão nunca é a primeira fase do amor, mas é uma expressão tardia do mesmo. A paixão é erroneamente ligada à fase do enamoramento, pois esta é a fase do encanto, da alegria, onde tudo é perfeito e criam-se os sonhos para o futuro. Paixão é quando o amor se reveste de sofrimento, de dor e é assim que ela se encontra neste momento, vivendo o amor em forma de paixão.
            Este amor é infindável. Eles se conheceram muito novos e novos decidiram caminhar lado a lado. Ainda no início da juventude eles decidiram que não seriam eu e tu, mas que seriam um nós e este nós, seria um exemplo para todos aqueles que privassem da amizade deles. E assim, eles foram desde aquele primeiro momento, e o amor vivido por eles foi intenso, como intenso é a vida.
            Quando se conheceram, ela ainda era uma menina. Sim, ele foi e é o seu único amor. A verdade é que o amor não se conjuga. Amor vive-se e vive-se com intensidade e amor não tem fim e por não ter fim é que ela vive-o intensamente em si mesma. Vive-o com lágrimas, com o coração dilacerado, tão-somente porque o amor se revestiu de paixão.
            Jovens, quase adolescentes se conheceram e o amor floresceu neles e como no poema de camões, foi fogo que os consumiu, mas eles não viram, foi uma ferida que se abriu, que doeu e não se sentiu. Foi a dor que desatina sem doer e por ser assim, eles se entregaram um ao outro e por se doarem, a vida se fez mais vida, os sorrisos ficaram mais belos e o companheirismo se forjou e marcou a caminhada deles.
            Eles viveram uma linda história de amor. Viveram o amor nas suas mais variadas matizes e formas. Viveram-no intensamente, amando-se até o fim. Este amor levou-os ao casamento, um voto feito, um compromisso assumido diante de Deus e dos homens que somente a morte os poderia separar e assim foi, mas o que a morte não sabia é que o amor tem a capacidade de vencer a própria morte e imortalizar o amor, pois tudo o que se ama e quem se ama, torna-se imortal e rompe na eternidade. E este foi e é o amor vivenciado por eles. O amor que os fez um, vai além deles e pode ser contemplado nos filhos que surgiram como fruto do amor e da entrega incondicional de um para o outro.
            O tempo passou e cada dia eles se perceberam mais um no outro. O amor não aumentou e muito menos diminuiu, porque o verdadeiro amor é assim, pleno e pleno foi o amor deles. Pleno é o amor que é sentido e vivido mesmo que sendo vivido em forma de paixão, sentindo a dor e tendo o coração dilacerado, pois falta um pedaço e este foi arrancado de maneira inesperada, tão cedo. É por isso, que o amor se transformou em paixão, pois um pedaço foi arranco e como viver e continuar viver sem ele?
            Ela se vê vazia, sem chão, pois é inimaginável pensar a vida sem ser ao lado dele. Estar sem ele é ficar sem rumo, é estar prostrada sem forças para levantar e caminhar. A dor é inexplicável e é inaceitável ouvir as pessoas a dizerem que sabem como ela se sentem, pois não fazem a mínima ideia e jamais conseguirão dimensionar o que ela realmente sente.
            A paixão é real. A dor é dor no ser, transcendente. Ela é a dor da alma. O coração pede para caminhar para trás, pois o amanhã é tão vazio e o presente é tristeza. Que bom seria se a vida fosse um filme e simplesmente pudesse voltar ao início. Quem dera fosse possível voltar no tempo e jamais ter que viver este momento. A vida ficou sem sentido, pois como viver e continuar vivendo se metade dela foi extirpada. O amor dói quando se transforma em paixão. A paixão carrega consigo o sofrimento.
            O amor se transformou em paixão. E passados quase vinte e seis anos, ele se revestiu de tristeza. Suas cores mudaram e rasgaram o ser. Ela sente em seu cerne o que diz Rubem Alves: “E o amor, a coisa mais alegre, revela-se como a coisa mais triste. Diante da morte, o amor ganha cores trágicas.” Sim, ele se vestiu de tragicidade. Se fez paixão e nela a dor foi dilacerante, não há como explicar, mas a verdade é que a morte jamais terá a última palavra porque o amor trinfa sempre e somente o amor é eterno e nada nem ninguém conseguirá destruir o poder do amor.
            Esta é a história de um amor que insiste e persiste. O amor que se vestiu com muitas cores, mas hoje a cor dele é o roxo da paixão. Contudo, ele alimenta-se do verde da esperança, do raiar de um novo dia, o dia da ressurreição onde ele na sua plenitude continuará a ser pleno.

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