Vida e morte fazem parte da
mesma moeda. Elas fazem parte da nossa existência. É preciso saber viver para
que ao morrer, a partida seja serena e seja o que deveria ser. Morrer faz parte
da vida e a morte não deve ser temida. É preciso encarar a morte e o morrer
pois a morte ensina a viver. A Escritura diz que é melhor é ir à casa onde há
luto. A morte ensina-nos a viver.
Vivemos apenas uma vez, mas é
preciso saber viver.
É preciso entender que chega
um momento onde teremos de dizer adeus. A morte chega e rouba-nos aqueles que
amamos. Ela rouba-nos não apenas a pessoa, mas rouba sonhos e desejos. Ela é
dolorosa e angustiante, mas “no passado, mesmo sendo dolorosa ela era vivida em
família e respeitada. Com o passar dos tempos, com o avanço da ciência ela
passou a ser reprimida e escondida. É verdade que, morre-se menos; e, sendo
mais pequenas as famílias, torna-se menos aparente a morte. Por isso, é
frequente chegar-se à idade adulta, ter construído família e não se ter
experimentado o acontecer da morte próxima ou íntima. Tudo isto terá
contribuído, bem como um vago hedonismo que leva afastar do pensamento tudo o
que possa ser pesado, negro, inevitável, para o actual estado público da morte:
esquecida, silenciada, posta de parte.” Por ter sido, posta de parte cada vez
mais as pessoas morrem sozinhas, sem ter amparo e consolo dos seus.
A morte quando chega machuca.
Ela dilacera-nos e é o processo natural. Diante disto, Kubler-Ross diz que
passamos pelas seguintes fases: negação, rebelião, hesitação, depressão e
aceitação. Este processo não tem uma sequência lógica, e reagimos de forma
variada. Ao enfrentar a perda o luto pode ser normal, antecipado, adiado,
crônico ou patológico. É essencial vivermos este momento, sem negá-lo, para que
possamos ultrapassá-lo de forma saudável e nunca doentia e que se arraste no tempo.
A morte machuca-nos e joga-nos
para o que não é mais. Ela rouba-nos aqueles que amamos e é preciso aprender a
viver sem a pessoa amada. Temos que reaprender a viver e seguir vivendo com
aquele que não é mais, mas se faz presente em nós.
Quando compreendemos o viver e
o morrer, reconhecemos que é preciso viver e amar no presente antes que a morte
se manifeste e roube-nos quem tanto amamos. É essencial amar no agora e amar
até o fim e depois da partida, fazer despedida com tristeza e sofrendo, pois
este é o preço que se paga por amar. Contudo é fundamental também dar um novo
significado à vida.
Quando este processo é feito
de forma saudável, a recordação é sempre bem-vinda, pode até nos entristecer,
mas jamais será doloroso. Vive-se a presença ausente. E este recordar nos
transporta ao passado, as lembranças que carregamos em nós. O povo diz que
recordar é viver e viver é recordar, mas é olhando para trás que refazemos o
presente e projetamos o nosso futuro. A morte ensina a viver e ensina que
precisamos valorizar as pessoas no presente e nunca esperar pelo amanhã, pois
ele jamais chegará.
Viver é manter vivos aqueles
que carregamos em nós além do tempo. É seguir em frente com a dor da saudade e
a doce lembrança dos momentos maravilhosos que foram partilhados. É preciso
viver e saber viver. No nosso viver, devemos entender que a morte faz parte da
vida e chega um momento em que teremos que dizer adeus, mas precisamos cuidar
de nós para ultrapassar este momento delicado e depois viver a doce lembrança
da saudade.
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