Recentemente, vi a foto de um
funeral. Era uma foto triste, não apenas por ser de um funeral, mas porque
mostrava a dura realidade da falta de sensibilidade ou até mesmo da hipocrisia
humana. A sala estava vazia, sem ninguém, mas cheia de flores. Qual o sentido?
Lembrei do meu velho pai, que sempre
nos dizia que as homenagens deveriam ser feitas em vida e eu vou mais além, se
desejarem, me oferecer flores, façam-no agora que posso apreciá-las e desfrutar
do perfume das mesmas.
Quando lembro da foto deparo-me
com as seguintes realidades:
A pessoa que jazia naquele caixão
pode ter sido um empresário “bem-sucedido”, mas foi um fracassado nas suas
relações humanas. Não havia nenhum parente presente, não tinha amigos.
Portanto, é de concluir que morreu só e se morreu só, foi porque investiu no
ter e não no ser. Quem investe no ter valoriza as coisas e coisifica pessoas.
Entretanto, é preciso valorizar pessoas, investir em relacionamentos e usar
coisas. É bom lembrar as palavras de Jesus: “De que adianta o homem ganhar o
mundo inteiro e perder sua alma?”.
Outra realidade que a foto deixa
claro é que, dinheiro pode comprar muitas coisas, menos amigos. Pode até
comprar prazer momentâneo, mas não comprar amor e a verdadeira companhia que se
faz presente através da amizade e do amor. Pessoas valem muito mais do que
coisas. Quem vive para coisas e para o prazer pelo prazer acaba só.
Há um outro aspecto que não pode
ser desprezado. É a hipocrisia que se faz presente através da quantidade de
coroas de flores que estão ali presentes. Aquelas rosas mostram como desejamos
ficar bem perante os outros. Não se deseja estar presente, mas envia-se flores
para que os outros vejam que nós, nos lembramos e nos solidarizamos naquele
momento. E as frases nos cartões são aquelas de praxe, mas que não significam
nada para nós. Quem não se fez presente em vida não se faz na morte e acaba
gastando dinheiro, oferendo flores para dar uma satisfação aos vivos e não como
um ato sentido de despedida.
Diante de tudo isto, volto ao
começo, pensando no que falou o meu velho pai. As homenagens devem ser feitas
em vida. É preciso dizer que amamos enquanto a vida pulsa no ser querido.
Contudo, é preciso investir em relacionamentos, é fundamental dedicarmos tempo
às pessoas e não ficarmos presos as coisas e muito menos escravos do trabalho.
A vida é muito breve. Não espere
pelo amanhã. Não deixe para oferecer flores quando não houver mais oportunidade
do outro apreciá-la e muito menos desfrutar do perfume delas. De preferência,
ofereça flores, esteja presente, seja a companhia, seja a flor no jardim da
vida da pessoa amada. Partilhe a vida e partilhe-se com quem ama, enquanto a
vida pulsa e faça-o até o último momento.
Ouça todas as músicas e ofereça
todas as flores enquanto o coração bater. Como diz Kubler-Ross: “Acreditamos
veementemente que é melhor dar flores às pessoas enquanto elas estão vivas do
que empilhá-las sobre o seu caixão. Acreditamos veementemente que, se as
pessoas gostam de música, eles devem ter música num momento como esse.” Flores
e música na vida e enquanto há vida. Não deixa para depois, não guarde para o
amanhã, esteja presente e fazendo-se presente, ofereça as flores e a música.
Não me ofereçam apenas flores,
estejam presentes na minha vida. Sejam companhia. E se for para me oferecer
flores, quero recebê-las em vida. E quando eu partir, não se preocupem que não
quero morrer, espero viver ainda muitos anos, mas quando eu partir, que a vida
seja celebrada e que a celebração dos ritos, seja numa tentativa de consolar os
que ficam e espero que estejam presentes (risos), e que a cerimônia tenha “a
simplicidade e a beleza de um haicai”.
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