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DOMANDO A FERA


Somos seres relacionais. Somos seres sociais e co-dependentes uns dos outros. O fato é que nos percebemos quando estamos diante uns dos outros. Nos humanizamos através da relação Eu-Tu. É onde nos percebemos enquanto seres humanos e iguais. Nossas relações são fundamentadas na reciprocidade. Como afirma Matin Buber: “As relações são realizações do Tu inato naquele que vem ao nosso encontro; que este, concebido como o que nos faceia, aceite como exclusivo, possa enfim ser solicitado com a palavra fundamental, tem seu alicerce no a priori da relação.” Somos seres relacionais e é assim que nos percebemos humanos.
Somos seres relacionais e com vontade. E nos encontros, na relação é fundamental reciprocidade e respeito. Portanto, em nossas relações é essencial que aprendamos a arte da temperança ou do domínio-próprio. Nas nossas relações temos que aprender a dominarmo-nos e não ao outro.
É fundamental que tenhamos temperança. Devemos ser pessoas com domínio-próprio. A ideia do grego para o termo temperança “é um homem que possui domínio e poder sobre algo, mas principalmente sobre si.” É uma pessoa que se autolimita. Que mantém o equilíbrio e por isso, respeita o outro e o trata com cordialidade.
Somos seres relacionais e seres imperfeitos. Nossa tendência é pensar que temos sempre razão. Sem nos darmos conta, tornamo-nos verdadeiros ditadores e acabamos por destruir as nossas relações por não aceitar quem tem uma opinião divergente. Preferimos ter razão do que manter uma relação. É bom saber que: “Aceitar que somos imperfeitos humaniza a relação e quebra a rigidez geradora de tensão.”
Precisamos desenvolver a temperança em nossas vidas. A arte da autodominação. Ser uma pessoa equilibrada. É dominar a si próprio e não o outro. É respeitar o outro e tratá-lo com respeito e consideração.
O domínio-próprio, a temperança é dádiva de Deus para nós. Ela ser para que nos controlemos em todas as áreas da nossa vida. Uma das áreas mais difíceis que temos em termos relacionais está ligada às nossas palavras e a Escritura diz que nossas palavras devem ser agradáveis, devem ser temperadas com sal, ou seja, devem dar sabor ao outro, devem edificá-lo e nunca destruí-lo.
Temperança é a arte do domínio. O domínio pessoal e quando isto acontece, nos tornamos pessoas mais leves e aprendemos a escutar os outros e a relacionarmo-nos com eles de forma pacífica. Quando somos temperantes, quando temos domínio-próprio, olhamos para o outro com respeito e o tratamos como gostaríamos de ser tratados.
Somos seres relacionais e para que nossas relações sejam bem-sucedidas, é preciso cuidar primeiramente de dominarmo-nos a nós próprios, para que no encontro com o outro haja respeito e reciprocidade.

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