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O VAZIO DO BARULHO


Somos a sociedade do barulho. A sociedade das redes sociais. Contudo, somos também a sociedade mais individualista que existe. Vive-se relações virtuais. As comunidades são de rede, mas pouco se vive no mundo real, no cara a cara. As pessoas vivem fechadas umas para as outras. Estão agarradas aos seus celulares, com os fones nos ouvidos e não veem, nem escutam os que estão ao seu lado.
Estamos marcados pelo vazio do barulho e pela solidão. Desaprendemos a estar na companhia uns dos outros e mais do que isto, desaprendemos a escutar uns aos outros. Nos tornamos ditadores e pensamos que somos os donos da verdade.
Somos daqueles que desejam ser escutados, mas não temos paciência nenhuma para escutar os demais. O filósofo Zenão de Eleia dizia que “nos foram dadas duas orelhas, mas apenas uma boca”. Devemos escutar mais do que falar. Escutar numa sociedade barulhenta é um desafio. Escutar numa sociedade em que impera o vazio e que as pessoas estão trancadas na sua solidão é ainda muito mais complicado. É preciso não apenas ouvir os sons, é fundamental escutar o ser e toda a manifestação dele. É preciso escutar o silêncio.
Somos a sociedade do barulho e este ruído todo nos impede de escutar o outro pacientemente. Vivemos na correria, vamos de um lugar para o outro. Queremos cada vez mais. Somos consumidores compulsivos. Investimos no ter e esquecemos de ser, e isto tem gerado depressão, ansiedade e infelicidade. É essencial refazer nossos conceitos, reorientar a vida e investir no ser. “Se levar uma vida menos orientada para o material, se não prestar tanta atenção ao que as pessoas têm e podem dar e se se centrar no que já tem, apaziguará as suas paixões. Conquistará uma calma que lhe permitirá ver a vida com maior clareza e tomar decisões de forma mais racional e assim viver uma vida feliz e livre.” É preciso aquietar-se e este sossegar vai trazer o silêncio interior e este a serenidade que nos fará escutarmo-nos e escutarmos o outro.
Somos a geração que desaprendeu escutar. Contudo, é preciso ter paciência para escutar. É preciso parar para escutar o outro. Temos que lembrar o princípio das Escrituras que afirma que a pessoa deve ser pronta para ouvir e tardia no falar. Precisamos silenciar e também investir no ser. É essencial que tiremos o consumismo do centro, que deixemos de investir no ter para investir no ser e, se assim o fizermos, nos reencontraremos na caminhada da vida e dedicaremos tempo uns aos outros. Nossos encontros serão reais e não virtuais.
Somos a sociedade do barulho e da correria. Somos a geração sem paciência, pois tudo muda rapidamente e desejamos resultados imediatos. Nossas relações são fugazes e sem significado e num mundo assim, resta-nos a solidão. É bom que tenhamos consciência do seguinte: “No fundo de muitos problemas humanos, no substrato da infelicidade, encontra-se o desejo urgente de sermos queridos, ouvidos e respeitados. Contudo, de nada nos servirá procurar lá fora esse reconhecimento se não soubermos amar-nos a nós próprios, se não ouvirmos as nossas necessidades mais profundas e se não respeitarmos o nosso corpo e a nossa mente com hábitos saudáveis.” É preciso parar para se escutar.
Somos a geração do barulho e do individualismo. Somos egoístas e impacientes, mas é preciso abrandar o ritmo e ser paciente consigo mesmo e com o outro. É fundamental escutar a si e o outro com paciência e investir no ser e não no ter.

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