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SER POETA

O poeta é alguém especial. É alguém que usa palavras para construir um mundo muitas vezes bucólico, outras tantas, triste. É alguém que utiliza as experiências da vida como ferramenta. É uma pessoa que fala do amor e da dor.
O poeta, muitas vezes transforma sua tristeza em contentamento para os outros. Sua alegria, seus sentimentos são inspiração aos demais. Como podemos definir o poeta?
A poetiza portuguesa Florbela Espanca o definiu na poesia da seguinte maneira:
Ser poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Isto é ser poeta. Contudo, creio que podemos dizer ainda mais sobre o poeta. Podemos olhar para a vida destas pessoas e chegar a algumas conclusões do que seja um verdadeiro poeta.
O poeta é um construtor. Todos os que amam a poesia reconhecem que não é fácil trabalhar as palavras e dar sentido a elas. Muito menos juntar letras para que formem palavras e tenham um sentido profundo. O poeta é um construtor de emoções. Ela utiliza as palavras para construir o mundo das emoções.
O poeta é um médico. Médico sim, pois o poeta trata das questões do coração. Ele melhor que ninguém sabe trabalhar as questões da mente humana. Na sua prática da medicina o poeta é muitas vezes cardiologista, outras tantas, psiquiatra. O facto é que ele trata das feridas que os outros estão a viver. Ah! O poeta é um grande médico.
O poeta é um filósofo. E se há alguém que sabe o que é a vida e o sentido dela são os poetas. Até porque a vida para ter sentido precisa de emoções. Ela necessita de sentido e tudo o que o poeta faz é por emoções e sentido na vida através da sua poesia. Ele fala da vida, da sua vida, mas sua experiência acaba sendo o questionamento e a busca da resposta última de cada ser humano.
O poeta é um artista. Na sua arte ele utiliza toda a criatividade e brilha e seu brilho é tanto que mesmo quando fala da sua dor consegue nos encantar e fazer com que tenhamos empatia tal, que esta dor de certo modo é partilhada connosco, mas também à nossa dor é vivenciada na experiência deste artista fenomenal que consegue transformar a tragédia em algo belo. O poeta é um artista!
O poeta é um palhaço. Não no sentido pejorativo do termo. Ele é o palhaço que consegue muitas vezes fantasiado mudar e tratar dos nossos dilemas. Ele é o palhaço conforme canta Jessé na bela canção: “O sorriso ao pé da escada”. Esta canção fala da realidade da vida do palhaço, mas também fala da realidade da vida de cada um de nós. A letra da canção diz:
Sorrindo, o palhaço é um homem.
Pintado, ele tem outro nome.
Fingindo, sempre muito engraçado.
Mentindo, como pobre coitado.
Fugindo, sai correndo pra rua.
Subindo, ele chega na lua.
Brincando, imitando a vida.
Sofrendo, ele pensa na sua perdida.
Palhaço é um homem pintado
E o homem é palhaço sem se pintar.
E o homem é sempre palhaço
Brincando sem graça pra vida levar.
Chorando, ele faz a alegria.
Sorrindo, ele vive a tristeza.
Cantando, ele ensina o refrão.
Saltando, ele faz o sorriso do povo.
Quantos poetas utilizaram outro nome?
Quandos poetas dissimularam sua tristeza para aparentar uma felicidade inexistente?
Quantos poetas falam da vida ao reconhecer que à sua própria esta perdida?
Quandos poetas em meio à sua dor e tragédia enchem os outros com alegria e esperança?
O poeta é um palhaço. É o palhaço que transforma sua dor, seus sentimentos, suas emoções em oportunidade para mudar a vida dos outros. Contudo, quem cuida do palhaço?
O poeta é um utópico. Ele vive a fantasia, o sonho. Sonho do que ainda não se realizou, mas que pode vir a se realizar.
Ele vive a fantasia dos amores impossíveis. O sonho do amor possível.
Ele na sua utopia faz com que a vida tenha mais cor, mas beleza.
Realmente tenho que concordar com Florbela Espanca. Ser poeta é ser mais alto, é ser maior.

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