A vida se constitui de idas e
vindas. Ela se realiza nas chegadas e partidas. O abraço que celebra a alegria
da chegada é o prenúncio do abraço e da dor da despedida. A despedida é inevitável.
Despedir-se de quem se ama sempre é doloroso. Deixar o outro ir custa-nos e
quem parte, leva muito de nós e deixa muito de si conosco.
Já dizia Vinícius de Moraes: “A
vida é a arte do encontro do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.”
Nossos encontros são momentos de partilha. Neles celebramos a vida em toda a
sua plenitude. Alegria e tristeza. Amor e ódio e não adianta tentar negar, pois
isto é factual. Nossos encontros são celebrados e quando amamos, desejamos o
reencontro. Contudo, a nossa vida se faz de mudanças constantes. Ela é feita de
imprevistos e não adianta traçarmos um rumo, pensando que tudo vai ser como
planejamos, pois não há segurança e certeza em nossa rota.
O abraço da chegada é o
prenúncio da despedida. As mudanças e as partidas são reais e dolorosas, mas
também são parte da vida e da nossa caminhada. A chegada, nós celebramos com
sorriso, mas a despedida se faz com lágrimas. Sendo assim, antes que chegue o
tempo das lágrimas, partilhemos os sorrisos, desfrutemos da vida e desfrutemos
do que devemos desfrutar. Como diz Kubler-Ross: “E é isto, essencialmente, que
precisamos aprender: reservar um tempo para as coisas essenciais. Conseguir
ouvir o nosso próximo e conseguir escutar o que ele tem a dizer é essencial. E
também aprender a humildade que, se não entendermos o que estão tentando nos
dizer, nos leva a perguntar: “Não consigo compreender o que você está dizendo.
Você poderia expressar de outra maneira?” E, ao abrirmos a comunicação, vamos
descobrir que isso não é de modo algum tão difícil quanto pensávamos que seria.”
Comuniquemos, mas de forma clara, para que haja entendimento mútuo e
crescimento mútuo.
É fundamental compreender que
a vida se faz de encontros e despedidas. Na celebração dos encontros, na
partilha da vida os sentimentos e as emoções se fazem presentes de maneira
intensa. Contudo, quando chega a despedida, a dor se faz presente, mas estes momentos
ficam em nós, e como escreveu Rubem Alves: “A alma é o lugar onde estão
guardados, como se fossem quadros, as cenas que o amor tornou eternas.” Quero
ter em mim muitos quadros, pois em mim não há espaço para outra coisa que não
seja o amor.
Nossa vida é feita de
encontros e despedidas. Contudo, eu alimento os reencontros. As despedidas
existem e existirão, mas sempre vou viver os reencontros, nem que seja dentro
de mim. E isto, porque, “A saudade é um buraco na alma que se abre quando um
pedaço de nós é arrancado. No buraco da saudade mora a memória daquilo que
amamos, tivemos e perdemos: presença de uma ausência. “Oh, metade arrancada de
mim”, diz o Chico. Minha alma é um queijo suíço. E o que a saudade deseja não é
uma coisa nova. É o retorno da coisa velha, perdida.” Sim, a saudade deseja celebrar
o reencontro.
Idas e vindas. Encontros e despedidas.
Na linguagem das Escrituras, “Tudo tem uma ocasião certa, e há um tempo certo
para todo propósito debaixo do céu”. Portanto, quero viver tanto o encontro
como a despedida. A alegria da chegada e a dor da partida, mas acima de tudo,
quero alimentar em mim o reencontro, até porque, meu coração ficou cheio de
buracos que estão preenchidos com aqueles que eu carrego em mim e desejo
celebrar com eles o reencontro.
A vida se faz de encontros,
despedidas e reencontros. Hoje, eu quero o abraço do encontro, permitindo que o
coração bata compassado e entendendo que vai chegar o momento de manifestar a
tristeza e a dor da partida e quando acontecer, guardarei em mim cada momento e
aguardarei pacientemente a celebração do reencontro.
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