Estou lá na frente, esperando pela entrada dos noivos. O salão está completamente lotado. A cerimónia não se realiza em uma igreja, mas sim, no salão nobre do Fluminense. Esta é uma cerimónia muito especial. Tão especial que nos trouxe ao Brasil. Deu-nos o privilégio de como família, reunirmo-nos com toda a nossa família, facto que não acontecia fazia quase vinte anos.
Este casamento é especial por ser o casamento do meu primeiro sobrinho. Aquele menino traquina cresceu, e mostra-nos que, por mais que não queiramos o tempo passou e passou muito rápido. É, aquele moleque que chegou unindo a família, mais uma vez tem a capacidade de fazer isto. Seu casamento é muito mais do que apenas uma celebração de um casamento, pois esta celebração serve para reunir da família novamente. Ele é aglutinador. Thiago tem a capacidade unir o que fazia tempo estava separado. Não por causa de brigas, mas por causa da distância. Contudo, como diz Richard Bach, “longe é um lugar que não existe” e ali estávamos todos nós, com os corações agradecidos por estarmos juntos, felizes por participar da cerimónia e exultantes por nosso reencontro.
A entrada dos noivos é emocionante. Tico vem com os pais, a noiva entra acompanhada do pai e bem que podiam cantar a velha canção: “branca e radiante vai a noiva”. A noiva, que agora fará parte da nossa família é uma mulher de fibra. Teve que aguentar minhas brincadeiras e ali na frente, ela olha-me nos olhos e pede a bênção, tenho vontade de sorrir, pois lembro-me que, quando começamos a nos falar ela dirigiu-se a mim e eu a brincar com um ar muito sério disse-lhe que em meu tempo os sobrinhos primeiramente pediam a bênção aos tios. Ela não esqueceu e ali de maneira discreta, o faz deixando-me com vontade de rir. Eu a abençoei e sorri por dentro.
Sou o celebrante, mas aviso aos presentes que só tenho o privilégio de ser o oficiante porque sou tio do noivo, mas o que dizer a eles e àquelas pessoas todas presentes? É lógico que, queremos desejar o melhor aos noivos, mas há momentos em que as palavras tardam em sair. Tudo o que eu tinha pensado e preparado para falar ficou dentro de uma Bíblia que esqueci no carro do meu cunhado. Preparar tudo novamente, mas o que dizer num momento tão emocionante como aquele e que mexeria tanto comigo mesmo?
Passo por uma banca de revista e vejo que a reportagem de capa da revista VEJA é sobre o casamento. Comprei-a para ler e ali encontro algumas informações importantes, mas não quero informações. Desejo falar aos meus sobrinhos e a todos os presentes algo que faça sentido. No pouco tempo que tenho, pego uma Bíblia emprestada. Uma Bíblia que pertence ao meu sobrinho. Leio e releio algumas passagens, mas nada. Os textos parecem não fazer sentido. Queria tanto meditar com eles no livro de Eclesiastes, mas a mente não ajuda. É aí, que sou levado para o livro do Génesis, o livro dos começos e nada melhor, pois eles irão começar uma nova fase na vida deles. Como todos os presentes, eu também desejo que eles sejam felizes. Sendo assim, o tema da minha reflexão foi este: “Felizes para Sempre”, e disse-lhes que para sermos felizes para sempre, temos que por em prática três princípios, simples, mas que muitas vezes nos esquecemos. O que eu disse a eles e aos demais foi o seguinte: 1) Para que vocês possam viver felizes para sempre, precisam tratar-se como iguais (Gn1.26-28.), 2) Para que vocês possam viver felizes para sempre, é fundamental caminharem lado a lado. (Gn 2.23-24), 3) Para que vocês possam viver felizes para sempre, é fundamental inspirarem-se um no outro (Gn 2.23-24). Depois da meditação eles nos surpreendem com os votos, pois cada um da sua maneira assumiu o compromisso de amar e cuidar do outro. Tico usou de poesia e o fez com maestria. Amanda porque não dizer, Flor, pois é assim que ele a gosta de chamar, utilizou a prosa, mas o fez com todo encanto e beleza.
Concluída a cerimónia fomos para o salão de festas para juntamente com eles alegrarmo-nos e o fizemos com muito contentamento. Nossa família toda reunida e nem parecia que esta era a primeira vez num período de dezassete anos que estávamos todos juntos, isto porque, os que amam de verdade não contam os momentos das separações com dias, mas sim como um breve e momentâneo interregno que nada mais é que o prelúdio do próximo momento de celebração.
Estamos todos felizes, mas essa felicidade é aumentada ao vermos a alegria de Tico e Flor, vê-los ali exuberantes, dançando, brincando dá-nos a certeza de que poderemos dizer que fizemos parte dessa história.
Este casamento é especial em tudo. É o casamento do meu primeiro sobrinho. Aquele que uniu a família à volta de si no nascimento e agora tem a capacidade de uni-la no seu casamento e ao fazê-lo, tem a capacidade de unir e reunir e muito mais ainda, fazer com que haja conhecimento, pois muitos dos primos não se conheciam e é por causa dele que passaram a se conhecer, que começaram a se relacionar e a dizer que ninguém consegue destruir o amor familiar.
A festa foi bonita. Foi linda. Os noivos estão em lua-de-mel. Nós ainda estamos por cá, mas a viver os nossos momentos finais desta grande festa. Teremos que regressar para Portugal, para a vida que nos espera do outro lado do oceano. Creio que ali do outro lado, a viver e reviver este momento poderemos cantar com Chico a canção “Tanto Mar” e dizer assim:
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Assim como Chico, guardamos a semente que nasce no canto do jardim renovando a beleza e o frescor, esperamos que a vida de vocês seja assim. E quando a saudade bater forte e for envolvente, manda-nos um cheirinho de alecrim.
Foi uma cerimónia especial e eu fiz parte dela. Como bom brasileiro e contemporâneo que sou, digo que ela arrebentou, mas a pensar no meu lado lusitano digo como Chico “foi bonita a festa pá”.
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