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FRUSTRAÇÃO

A música toca suavemente na rádio. Joana se deixa levar pelas músicas. Neste momento, ela lembra-se que tem consigo o seu telemóvel e sendo assim, pode ligar para o esposo e agradecer a tão bela declaração de amor. Mais uma vez Joana abranda a velocidade do seu carro, pega o telemóvel para poder fazer a chamada para o marido.
Ela disca o número embalada pela música que toca ao fundo. Ela quer dizer-lhe o quanto o ama e também agradecer por tão grande demonstração de amor. O telemóvel do marido chama, toca várias vezes e ele não atende. Ela fica preocupada, pois ele sempre atende suas chamadas. Será que aconteceu alguma coisa?
Ela também fica a imaginar que ele não deseja atender a chamada porque pensa que ela irá reclamar por causa do programa, pois ele bem sabe o quanto ela é tímida e que não gosta de ser exposta desta maneira. Também pode ser que ele não queira atender porque passou muito tempo e só agora ela está a telefonar-lhe.
A chamada vai para a caixa de mensagens. Ela desliga o telemóvel. Liga novamente, mas é em vão. Márcio não atende as chamadas que ela está fazendo. Joana é envolvida num misto de preocupação e tristeza. Preocupação porque pode ter acontecido alguma coisa com Márcio e por isso, não atende o telefone. Tristeza por achar que está a ser desprezada. E na sua mente vem a pergunta: “Se ele me ama tanto e é capaz de fazer uma declaração de amor tão linda através deste programa, como pode me desprezar ao ponto de não atender minha chamada telefónica?”
A música ao fundo se torna irreconhecível. A mente de Joana está confusa, tudo gira à sua volta, por um instante ela perde a noção de que está a conduzir e por isso, quase colide com outro carro. Isto só não aconteceu, porque o outro condutor buzinou a tempo dela voltar a si e controlar o seu carro que estava seguindo para a outra faixa de rodagem. Isto fez com que ela ficasse ainda mais chateada com o marido, pois ela ia batendo o carro porque estava a tentar falar com ele, mas ela não obtem nenhuma resposta. Todas as chamadas vão para a caixa de mensagem.
A chuva cai lentamente lá fora. No carro, Joana se viu obrigada a abrandar a velocidade, pois percebeu que estava a cometer um erro gravae que era falar tentar falar ao telemóvel enquanto conduzia. Por este motivo ela quase bate o seu carro. Sendo assim, ela estaciona o seu carro e decide ligar não para o telemóvel do Márcio, mas para o seu local de trabalho, pois ele já deveria estar lá, visto que, saiu de casa primeiro que ela. Mais uma vez ela pega em seu telemóvel e faz a chamada. Quando atendem, ela se identifica e pede para que a chamada seja transferida para o seu marido. Contudo, ela é informada que ele ainda não chegou. Ela agradece e desliga. Entretanto, neste momento, a tristeza se desfaz e ela é envolvida numa névoa de preocupação, pois o marido tinha que estar no seu local de trabalho e não está. O que terá acontecido? Ele não atende o seu telemóvel e não se encontra no trabalho!
Joana é invadida pelo medo. A música ao fundo já não faz sentido. Ela é envolvida pela angústia e ansiedade. A sua única preocupação é saber o que aconteceu com o marido. Será que ele bateu com o carro? Se bateu, deve ter sido algo grave, pois ele não atende a sua chamada. Mas, se fosse algo grave, já teriam telefonado para ela. O que será que está sucedendo?
Os pingos da chuva caem sobre o carro, e agora parecem mais tambores a rufar convocando o povo para receber uma notícia. Joana treme de medo. Ela foi invadida pela aflição e por causa desta, seus pensamentos a conduzem para uma situação obscura, cheia de incertezas, tudo isto ocorre porque o marido não lhe atende as chamadas e também não chegou ao escritório. Mas o que terá acontecido? Será que realmente ele sofreu um acidente? Será que está zangado por ela não ter telefonado antes para agradecer a demonstração de amor?
Ela arranca com o carro sem olhar para ver se vem alguém. O carro segue o seu percurso normal, a chuva continua a cair lentamente, mas seu o seu coração bate forte, está disparado. A música segue a tocar suavemente a falar do momento em que os dois se descobriram. Contudo, Joana já não consegue ficar atenta à última música que está a ser tocada na rádio. Na realidade, enquanto na rádio Roberto Carlos canta “Cavalgada”, sua mente está cavalgando, vagueando, em busca duma resposta para o facto de Márcio não ter atendido o telemóvel. É neste momento, como que num lampejo ela recordar-se das muitas vezes que ele esquece o telemóvel em casa e sendo assim, fica mais tranquila. Contudo, porque será que ele ainda não está no local de trabalho? Para onde foi o Márcio? Bem, ele pode ter voltado à casa para ir buscar o telemóvel e pegou o transito congestionado e por isso, não chegou à casa.
O seu coração começa a desacelerar. Ela fica mais tranquila. É mesmo a tempo de ouvir parte da última música. Ela recordou-se da vez que ele foi para à porta do seu trabalho para gritar por ela. E se ele for fazer a mesma coisa hoje? Joana sorri para si e de si mesma. O facto é que ela agora está tranquila. Volta a desfrutar do programa, mas com um que de frustração por não poder falar com o seu amado.
A música está a chegar ao fim, a chuva continua caindo lentamente lá fora. O trânsito já flui com normalidade. Falta pouco para ela chegar ao local de trabalho e agora ela deseja chegar o quanto antes, pois mais uma vez ela idealizou e projectou que seu marido vai estar lá à sua espera para fazer-lhe mais uma surpresa, só que agora deixa de sê-lo, pois ela sabe e já está a contar com a mesma.
A música chaga ao fim, mas Joana segue na certeza de que irá chegar ao local de trabalho e ser surpreendida pelo marido. Será assim ou ela terá mais uma frustração por imaginar algo que não é real?
Joana está tranquila. Sua preocupação desapareceu. Ela agora só deseja chegar ao trabalho, mas antes disso, quer ouvir a conclusão do programa. O que será que virá depois de um relato tão lindo sobre a noite de núpcias?
O desejo dela é poder estar com o marido. Ela quer abraçá-lo, beijá-lo agradecendo por tudo o que ele fez e por tudo que ele é e representa na vida dela. Ela espera fazer isto tão logo chegue no seu local de trabalho, isto porque em sua mente o marido estará lá à sua espera.
Joana segue alegremente, no desejo não de trabalhar, mas de poder encontrar o seu amado e juntos fugirem dali para outro lugar e desfrutar daquele dia como se fosse o último de suas vidas. O que acontecerá?

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