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UMA HISTÓRIA DE AMOR

Gosto de escrever. É na escrita que combato o stress. Escrevo por gosto, mesmo sabendo que a arte da escrita é um grande desafio para mim. Há muita transpiração e uma pequena dose de inspiração.
Quero partilhar convosco o que irei chamar de uma história de amor. Digamos que é um livro que estarei a escrever e publicar aqui no blog. Espero ler vossas críticas e sugestões.
Quero partilhar então o primeiro capítulo neste momento.

Abraços,

Eu.


Surpresa

Parecia ser mais um dia na vida de Joana. Ela já estava acostumada à sua rotina. Ela vivia dentro de uma filosofia Buarquiana de fazer todo dia tudo igual. Aquele parecia ser mais um dia vivido dentro daquela rotina. Ela acordou cedo, preparou o pequeno-almoço para si e para o marido. Arrumou-se para ir trabalhar como sempre fizera.
O marido beijou-a como sempre a beijava. Ele seguiu numa direcção e ela em outra. Eles já sabiam que teriam que pegar um trânsito infernal. O congestionamento já fazia parte da vida deles. Eles já estavam tão habituados que não ligavam para o tempo que perdiam ali parados enquanto aguardavam que os carros se movessem lentamente. Todos os dias, a mesma hora a ver as mesmas pessoas a viverem a mesma rotina.
Era um dia frio. Chovia, mas a chuva era fina e persistente. Joana não sabia que este seria um dia totalmente diferente para ela. Ela não sabia que seria surpreendida pela positiva pelo marido. Isto parecia ser impossível de acontecer pois o relacionamento deles havia virado uma rotina. Eles apenas sobreviviam, não viviam mas, o marido estava disposto a mudar aquela situação.
Joana sentia que o relacionamento tinha caído na rotina. Até mesmo os afagos eram feitos mecanicamente. Sendo assim, ela estava desiludida e cansada. Estava a pensar em desistir do casamento. Mas aquela manhã iria mexer imensamente com ela.
Joana seguia no seu carro como sempre fazia. Como uma mulher de hábitos, ouvia a mesma rádio, pois a vida era uma rotina. Ela estava cansada, mas ali com aquela chuva a cair e o trânsito congestionado sem imaginar ela ouvirá o seu nome na sua rádio preferida.
O transito está terrível. Os carros não andam. Joana está ali parada sobrevivendo a mais um dia e este mal começou, mas para seu grande espanto ela tem uma surpresa. O locutor da rádio fala com ela.
- Joana Guerra, bom dia! Sei que parece estranho eu estar a falar contigo, mas quero que saibas que alguém especial fez de tudo para que este programa fosse dedicado a ti.
Joana fica atónita. Como é que isto pode ser? Quem é que lhe fez isto?
- Joana, como estás parada no trânsito teremos tempo para fazer um programa bem especial. Quem nos pediu para fazermos isto foi o teu marido, o Márcio. Ele disse-nos que andas triste e achas que a vida entrou numa rotina. Sendo assim, ele decidiu proporcionar-te um dia completamente diferente. Sinceramente espero que gostes do programa que iremos te oferecer.
É verdade, ele disse-nos que gostas de poesia. Falou-nos dos teus poetas predilectos e ajudou-nos a escolher um poema especial para ti. Vinícius de Moraes. Vais ouvir Vinícius a declamar para ti um poema especial, que o Márcio diz que se ele fosse poeta não teria conseguido expressar com tanta verdade o que Vínicius expressou sobre os teus olhos mesmo sem nunca ter-te visto. O nome do poema é o seguinte: Poema dos olhos da Amada.
Escuta na voz de Vínícius de Moraes, e pensa que este é o poema que o teu marido gostaria de ter escrito para ti.
Joana não sabe o que fazer. Sua cabeça roda. É uma mistura de contentamento e vergonha. O que dirão os seus amigos? O que falarão as pessoas com quem ela lida no seu trabalho?
Ela escuta Vinícius de Moraes a declamar o poema. Lágrimas descem pelos seus olhos.
Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus…

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus…

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.
Joana, tens que reconhecer que teu marido escolhe muito bem os poemas. Deves ter os olhos muito bonitos.
Joana fica a lembrar como Márcio elogiava os seus olhos. Como dizia que ficou prisioneiro daqueles olhos e que ele havia sido conquistado primeiramente pelos seus olhos.
Joana, espero que ainda estejas aí, pois temos muitas músicas para ti. Também é verdade que entre cada música também estaremos a fazer um breve comentário que o teu marido nos pediu. Sabes, ele nos enviou todo um roteiro para este programa e nós decidimos realizar o desejo dele, porque vimos que este será um programa muito especial e que marcará às vossas vidas e de muitos outros ouvintes.
Joana não acredita no que está a ouvir. Um programa dedicado a ela e todo elaborado pelo marido. Isto é demais. Realmente é algo que quebra toda a rotina que ela tem vivido diariamente. Enquanto ela está a pensar sobre isto o locutor intervém novamente a anunciar a próxima música.
Joana, lembras-te dos olhares que trocavas com o Márcio. Lembra-te como vocês comunicavam sem palavras. Lembras-te a emoção e o frio que dava na barriga a troca de olhares cúmplices que expressavam todo o amor que vocês nutriam um pelo outro?
Pois é, se não lembras, o Márcio ainda está lembrado daqueles olhares cúmplices e apaixonados. É a pensar naqueles olhares que ele te dedica a próxima música, pois ela retrata muito bem tudo o que vocês viviam naqueles dias em que estavam para iniciar a vossa relação.
Não sabes qual é a música que iremos dedicar-te? É uma música brasileira. É do Tom Jobim. Assim não chegas lá. Pronto, vou dizer-te e que todos os ouvintes e amantes possam trocar olhares assim. Ouçamos portanto a música «Pela luz dos olhos teus».
A música inicia, a voz melodiosa e suave de Tom Jobim soa nos ouvidos de Joana. Ela não quer acreditar que o marido tenha todas aquelas recordações. Ele não é uma pessoa de verbalizar e mostrar o que lhe vai na alma. Porém, neste momento ela vê que a história deles é algo bem presente na vida do marido e que não está esquecida.
Ela recorda-se dos momentos em que trocaram olhares. Lembra-se de quando os seus olhos se cruzaram e estes se comunicavam de modo claro. Eles os traiam e diziam a todos os demais que ali estava um casal que se amava.
Joana está incrédula e desejosa de ouvir o resto. Ela chora, mas de alegria. Não consegue se conter com tamanha demonstração de amor.
Joana, ainda te lembravas destes olhares? Que tempo maravilhoso aquele. Eles não fazem parte do passado. Eles estão no presente também. O que é necessário é abrandar e se desligar dos muitos trabalhos. É hora de se olharem novamente.
Joana, quisera toda mulher tivesse um marido tão apaixonado como o teu. Outra coisa, lembras-te do teu primeiro beijo?
Recorda-te como foi que aconteceu? Lembras-te do que vocês falavam?
Joana já não se recordava. Entretanto, ela viajou ao tempo do início do namoro. A chuva continuava a cair lentamente e fazia a toada do trânsito que caminhava lentamente e como ela gostou de ter que ficar ali parada a ouvir o programa que estava a ser completamente dedicado a ela.
Ela reflectia sobre o que falaram e como aconteceu o primeiro beijo deles, a realidade é que ela não lembrava.
Aqui vai Joana. Não o que vocês falavam, mas as muitas conversas que tiveram antes de acontecer aquele primeiro beijo. Lembra-te como ficavas preocupada com as divergências que havia entre vocês? Lembras-te como isto te angustiava e como o Márcio dizia que os opostos se atraem? Lembras-te dele dizer que havia muito mais coisas a vos unir do que separar? Pois é, a pensar nisto, a música que agora vais ouvir recordar-te-á este momento. É de Rui Veloso. Sabes qual é? É o «Primeiro Beijo». Reflecte e ver se ela não diz a verdade sobre o vosso primeiro beijo e o que antecedeu a ele.
Sabes muito bem que depois deste primeiro beijo as coisas ficaram mantidas em secreto. Vocês não quiseram revelar nada a ninguém, porque não tinham certeza se a vossa relação daria certo. Ficaram alguns meses a namorar em secreto. Por isso, as trocas de olhares se intensificaram. Os amigos até desconfiavam e faziam piadas, mas vocês não se descaiam. Mantiveram-se firmes sem dizer nada a ninguém. Foi um segredo bem guardado. Como guardar algo que deseja sair e se mostrar a todos. Como não dizer nada do amor que nos invade a alma?
Tu e Márcio suportaram esta situação com galhardia. Viveram-na cada dia intensamente e aproveitavam os momentos em que se encontravam longe de tudo e todos para desenvolver a vossa relação. A próxima música fala justamente do tempo do segredo. O teu marido escolheu e muito bem a música de Djavan para este momento. Tenho que confessar que este homem é romântico por demais, que as outras mulheres não esperem que todos os homens sejam assim. Vamos voltar ao que interessa. A próxima música que iremos ouvir é «Meu Bem Querer».
O sofrimento que a música fala era ocasionado na vossa vida porque não podia dizer nada às pessoas. Sofriam cada vez que tinham que se separar. Sofriam porque não dava para se encontrarem e se abraçarem na frente de todos. O início foi delicado e causou alegria, mas também havia esta saudável angústia que era provocada pelo desejo de estarem juntos, de trocarem afagos.Bem, o tempo não pára. É hora de fazermos um intervalo e depois voltaremos com mais músicas especiais que falam de uma relação de amor. Enquanto os comerciais estão a passar na rádio, Joana deseja ardentemente que o programa volte logo. Ela foi cativada pela declaração que estava a ser feita e por todas aquelas músicas.

Comentários

Ruth disse…
Assim não vale, queria saber como acaba o dia para a joana... e ficamos no intervalo do progarma...
pode me dizer o fim?
só uma pergunta, o marido chama-se Márcio ou Miguel?
ou é Marcio Miguel?
pode por o resto da historia amanhâ?
bj. Ruth
Anónimo disse…
Parece me que o Pastor tem o dom da profecia...

Grande Abraço

Simão

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