Ditos
populares são engraçados. Eles acabam por se tornar uma verdade, mesmo que
muitos não façam sentido nenhum. Passamos a utilizá-los, sem nem ao menos questioná-los. Hoje deparei-me com dois deles que vi que para mim ficaram sem
sentido.
Estava
reflectindo e lembrando de quem não está mais aqui quando os ditos me saltaram
à mente. Eles são os seguintes:
«Longe da
vista, longe do coração» e «Aquilo que os olhos não vêem o coração não sente».
Que grande mentira. Quantas pessoas estão longe da minha vista e bem próximas
ao coração. Porque dizer que quem está longe da vista, o coração não sente?
O coração
traz aqueles que estão longe sempre perto. Ele sente e sente muito. É por isso,
que vivemos a saudade, esta presença ausente. É por este motivo que alimentamos
a esperança do reencontro e o desejo da partilha e da companhia.
Longe da
vista, perto do coração. Sim, pois a emoção e o sentimento se fazem presentes.
O que os olhos não vêem, o coração sente e traz o ausente presente. Faz com que
a distância e a ausência sejam encurtadas. O coração vê muito mais que os olhos
e sente com todo o ser a presença do ser que está distante, daquele que se faz
presente sem o ser fisicamente.
O coração
sente e não nos deixa indiferente. Ele faz presente o ausente e hoje consigo
perceber o que disse o salmista quando cantou: “Às margens dos rios da Babilônia
nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião” (Sl 137.1). Eles não
viam, mas lembravam-se de Sião e a sentiam profundamente.
O poeta
falou que “de repente fez-se do amigo próximo o distante”, mas também é verdade
que o distante faz-se próximo, presente quando o coração se abre e se deixa
invadir pela saudade. Os olhos podem não ver, e o ser querido pode até estar
longe da vista, mas a verdade é que o coração o sente e o tem próximo, presente
e à sua presença é gritante que chega a encher os olhos de lágrimas pela
alegria e saudade que se manifestam neste preciso momento.
Longe da
vista e bem perto do coração. Sem que os olhos vejam, mas com o coração
sentindo eu viajo nas asas da imaginação ao encontro daqueles que trago em mim
e que os sinto diariamente. Hoje alimento a esperança do reencontro. Desejo a
beleza do sorriso, o abraço amigo. Quero o brilho nos olhos.
Meus olhos
não podem ver. Há uma distância que me impede de ver aqueles com quem tanto
desejo estar, mas trago-os junto a mim e posso senti-los bem perto. E como
escreveu Richard Bach: “Longe é um lugar que não existe”, e porque não existe
me aproximo dos que tanto amo para dizer-lhes que estou com saudade e que os
amo com todas as forças do meu ser e que não importa o tempo, não interessa se
não os vejo, pois nada nem ninguém poderá destruir o amor que sinto, até porque
o amor, o verdadeiro amor não tem fim.
Eis-me
aqui, sentado a escrever um pequeno texto. Em mim trago aqueles que tanto amo e
a quem dedico o texto. Não os vejo, mas eles estão próximos de mim. Não os
vejo, mas sinto-os e por senti-los desejo apenas sair ao encontro deles e dizer
que este amor é um amor sem fim.
Longe da
vista, perto do coração. Sem poder ver, mas sentindo e sentindo muito, quero
apenas dizer que amo com todas as forças do meu ser.
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