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O SER HUMANO JESUS

Mateus 1.18-25; Lucas 2.1-7 Iniciamos uma série de estudos sobre a pessoa de Jesus. Como introdução afirmamos a sua divindade. Declaramos que Ele é Deus encarnado. Cremos na divindade de Jesus. Aceitamos que Ele é perfeito Deus e que também é perfeito Homem. É facto que muitos rejeitam a divindade de Jesus. Muitos recusam-se a olhar para Ele como o Salvador. Entretanto, não podem negar sua existência histórica e, mesmo que não sejam religiosos, sempre colhem para si a imagem de Jesus em determinados momentos para exemplificar algo grandioso. Sendo assim podemos afirmar que “a pessoa de Jesus é tomada a sério por toda esta gente. Vê-se que tem interesse para a história e vida dos homens de hoje. Diríamos que estes homens, com a melhor simpatia, sentem-se fascinados por Jesus, que continua a ser portador de esperança para a sociedade actual.” Jesus continua a fascinar o mundo. Entretanto, a igreja tem tido algum receio de falar da humanidade de Jesus. Qualquer estudo que fale da humanidade de Jesus, tem que passar por coisas básicas, tais como: nascimento, desenvolvimento, morte. Creio que fazemos isto por medo de perder de vista o Jesus Deus Encarnado. Entretanto, se desejamos anunciar uma fé consistente, devemos partir do facto da humanidade de Jesus. Não podemos esquecer este aspecto pois é de suma importância. Creio que aqui cabe a seguinte pergunta: “Poderia ter alguma consistência a Fé da Igreja que proclama Cristo Senhor sem assentar numa base firme histórica da vida terrena de Jesus? Sem essa base, Jesus não passaria de um mito.” Nossa fé é sólida. Não temos um mito. Temos uma fé racional, baseada em factos históricos. Entretanto, devemos entender que: “Os evangelhos não são narrativas biográficas. São confissões de fé, quer dizer, exprimem a convicção de pessoas para as quais o acontecimento pascal transformou o conhecimento que tinham de Jesus e a percepção da existência. Por consequência, quando se pretende iniciar uma reflexão sobre a significado actual de Jesus, não se pode abstrair deste primeiro dado.” O que estamos declarando é que a nossa premissa é a confissão de fé. Isto porque: “… não é possível estabelecer uma biografia ou história de Jesus no sentido usual do termo, pois os redactores dos Evangelhos não tiveram a intenção de Escrever uma história sucessiva e motivada da vida de Jesus de Nazaré. Os evangelhos são antes testemunhos de crentes. Isto, porém, não quer dizer que não tenham nada de histórico. O que representam são rasgos soltos, episódios independentes que, no seu conjunto, nos mostram a personalidade total de Jesus.” É facto que a igreja sempre declarou que Jesus é perfeito Deus e perfeito Homem. O Novo Testamento não tem uma formulação doutrinária, como a do concílio de Niceia, mas podemos ver essa declaração postulada em todo ele. Jesus é perfeito Homem. Não podemos negar este facto e cada vez mais encontramos livros a analisarem a pessoa de Jesus. Para nós cristãos, “interessa-nos sempre estudar o Mistério de Jesus, pois Ele é para nós a Chave da História, o Salvador dos homens de todos os tempos, o único capaz de dar sentido à nossa vida.” Entretanto, nem todos pensam assim, e sendo assim, podemos encontrar algumas doutrinas, ou melhor dizendo, perspectivas de estudos sobre a vida de Jesus, a saber: a) Uma interpretação Política e Marxista de Jesus. Alguns olham para Jesus e buscam fazer uma interpretação política ideológica de sua vida. b) Uma interpretação Personalista de Jesus. Esta interpretação conduz a uma análise subjectiva e individualista. c) Uma interpretação Psicológica da Pessoa de Jesus. Há neste momento pessoas que olham para Jesus e suas atitudes buscando respostas para a psicologia. Muitos livros estão a ser escritos sobre esta temática. d) A interpretação Histórico-Dogmática de Jesus. Este deve ser o nosso ponto de partida para que possamos ter uma Cristologia autêntica e segura, pois se não for assim, a Pessoa de Jesus seria reduzida a uma visão meramente humana. Quais devem ser as nossas premissas para uma análise da Pessoa de Jesus? - O Jesus histórico, como critério objectivo. Sem ele a fé cristã ficaria reduzida a uma ideologia ou simples invenção filosófica. - A Ressurreição, como base necessária para a explicação da vida e mensagem histórica de Jesus, que ganham assim uma luz nova. Vamos olhar objectivamente para a realidade de Jesus. Vamos ver o Homem, mas também olharemos à luz da ressurreição, do seu sacrifício pascal, para que possamos entender quem realmente é Jesus. Olhemos agora para o nosso texto e vejamos o que podemos aprender com ele sobre a humanidade de Jesus e o que ela nos ensina. Jesus assume toda a natureza humana. Sei que aqui correrei perigo em algumas declarações, mas o medo não nos pode paralisar. Ele não pode ser impeditivo de uma reflexão acerca dos temas mais importantes da nossa fé. Afirmamos que a humanidade está sob o peso da queda. Tendo Jesus nascido de mulher, tornando-se homem, ele ficou sob o peso da queda? Na sua humanidade ele estava de certo modo sob a influência da queda, mas o facto é que Ele não pecou. Ele nasceu debaixo da Lei e a lei afirma que o ser humano está sob a maldição da queda e Ele veio para nos resgatar desta maldição fazendo-se maldição. Jesus fez-se homem. Nasceu de uma mulher (Gl 4.4). Assumiu completamente a natureza humana e ela está sob o efeito da queda (Gn 3). Se tentarmos negar este aspecto, se dissermos que Jesus não nasceu sob a maldição da queda, entramos numa heresia terrível que é a da impecabilidade de Maria e sua ascendência. Ele é o cumprimento da promessa feita lá no Éden. Ele é a semente da mulher (Gn 3.13-15). Ele veio destruir a maldição do pecado que reinava sobre a humanidade. Paulo afirma: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Co 5.21). Ele viveu e sofreu, mas não conheceu o pecado. Ele não pecou. Pedro quando fala dos sofrimentos humanos e das dificuldades que passamos nesta vida, fala do exemplo deixado por Cristo e faz a seguinte afirmação: “o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou na sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2.22-23). Jesus assumiu a sua humanidade e, por isso, foi tentado, e só foi tentado porque a possibilidade do pecado era algo real e palpável. Como ser humano Ele poderia pecar, mas não pecou. E não pecou porque estava em íntima comunhão com o Pai. Jesus torna-se dependente dos demais. O Deus-Homem, nasceu de uma mulher. Tornou-se dependente. Ele não podia na sua humanidade fazer nada por si. Por ser totalmente humano, necessitava de cuidados. Ele precisou do cuidado paternal. Quando da ameaça de Herodes, seus pais tomaram a criança e seguiram para o Egipto. Ele estava necessitado. Precisava de cuidado e atenção. Não podia cuidar da sua própria vida naquele momento. O ser humano Jesus dependia do cuidado dos pais, mas também precisava aprender todas as coisas como os outros seres humanos. Ele teve que estudar. Teve que desenvolver a obediência e sujeição aos seus pais. É interessante que Lucas fala do desenvolvimento de Jesus. Fala do seu desenvolvimento físico e mental (Lc 2.40;52). O ser humano necessita de alimento para crescer. Precisa exercitar sua mente para a desenvolver. Jesus estudava e aprendia. Ele dependia dos demais e relacionava-se com os demais, e por se relacionar de modo correcto, caía na graça das pessoas. O homem Jesus foi dependente e aprendeu com os demais no seu processo de desenvolvimento e isto é uma característica humana. Os seres humanos não nascem feitos. Os seres humanos não sabem todas as coisas. Eles não são auto-suficientes. Os seres humanos são dependentes e precisam da ajuda e do apoio dos demais. Jesus encarna uma cultura e vive de acordo com ela. Este aspecto é muito importante. Geralmente afirmamos que o evangelho é supra-cultural. Afirmamos que é muito maior que a cultura e isto é bem verdade, mas como afirmou o meu bom amigo José António: “Jesus nasceu numa cultura específica”; não apenas isto, ele viveu completamente de acordo com a sua cultura e reorientou o povo dando o verdadeiro significado à cultura e cosmovisão do povo. Olhando para a vida de Jesus, encontramos vários aspectos culturais. Vejamos três desses aspectos que aconteceram na sua infância: i) Como bom judeu, foi circuncidado ao oitavo dia (Lc 1.59). A circuncisão é uma prática religiosa sim, mas também cultural e histórica, mostrando o pacto de Deus com Abraão. Este ritual fala da graça de Deus. Fala de um Deus que não volta atrás na sua palavra. Contudo, este acto fala de uma atitude de obediência a Deus e de que preservamos a história do pacto que foi feito com o nosso ancestral. A circuncisão tem como base o encontro de Deus com Abraão, mas este pacto estende-se para toda a sua descendência (Gn 17.12-14;21.4; Lv 12.3). Este acto era um acto de fé, mas também uma realidade cultural do povo de Israel. ii) O segundo ritual está relacionado com a mãe de Jesus, Maria. É o ritual da purificação (Lc. 2.22). Este é um ritual instituído por Deus depois do povo ter saído do Egipto. É um ritual higiénico mas baseado no que Deus disse. E o relato do ritual fala que a família era pobre e por isso ofertou dois pombos (Lc 2.24). iii) O terceiro ritual que podemos ver é a apresentação de Jesus (Lc 2.22-23). Ritual que evoca a Páscoa. O resgate do primogénito que implicava o pagamento de cinco siclos de dinheiro (Êx 13.2,12; Nm 3.47-48; 18.15,16). Este acto deveria acontecer em Jerusalém, no templo. Estes aspectos mostram como Jesus viveu em conformidade com a sua cultura. A Páscoa que ele tantas vezes celebrou demonstra como Ele viveu a sua cultura de modo intenso. O ser humano, Jesus, nasceu e viveu completamente envolvido dentro do seu contexto cultural, o respeitou e assimilou completamente. Conclusão Jesus o ser humano. Ele é perfeitamente humano. Assumiu e viveu todas as fases da vida que nós vivemos. Olhando para a humanidade de Jesus o que podemos aprender? 1 – Ao assumir a natureza humana Jesus valoriza-nos enquanto criaturas de Deus e mostra-nos que fomos criados para nos relacionarmos com Deus. 2 - Ao assumir a natureza humana Jesus ensina-nos a lição da dependência. Não somos auto-suficientes, pelo contrário, necessitamos dos demais. 3 – Ao assumir a natureza humana Jesus mostra que a cultura é importante e que há aspectos nela que manifestam a glória de Deus. Jesus o ser humano perfeito. A igreja precisa olhar para Jesus, o Jesus encarnado, o Jesus homem e entender que a humanidade só pôde ser resgatada, porque Ele foi completamente humano e, na sua humanidade, pagou o preço pelas nossas vidas.

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