O carro segue lentamente, mas a cabeça de Joana está aceleradíssima. Tudo o que está a ser dito ali é verdade. Cada momento foi vivido com alegria e intensidade. De facto, ela pensava que Márcio não lembrava nada mais daquilo. Contudo, ela havia esquecido que há uma diferença entre lembrar e recordar como afirmava o filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard: Recordar-se não é o mesmo que lembrar-se; não são de maneira nenhuma idênticos. A gente pode muito bem lembrar-se de um evento, rememorá-lo com todos os pormenores, sem por isso dele ter recordação.
Joana não havia percebido que Márcio recordava de todos aqueles momentos, pois eles eram importantíssimos para ele. Representavam muito para a sua vida. Contudo, enquanto o carro seguia lentamente, a mente de Joana corria pela memória e lembrava dos bons momentos que estavam a ser narrados ali no programa. Todos eles eram verdade, mas faltavam os momentos complicados que os dois passaram juntos. Na mente de Joana, Márcio falava apenas dos encontros e momentos maravilhosos. Ele estava a esquecer os desencontros, as lutas que os dois tiveram que travar. Apesar do êxtase do momento que está ser vivido naquele momento, Joana é transportada para o passado. Ela é levada não pela recordação, mas pela lembrança dos muitos momentos que ficaram armazenados e guardados em sua memória. E por causa disto mesmo, o momento único e belo, a surpresa que foi preparada pelo marido quase se torna num momento vazio, pois ao abrir a caixa das memórias, ao ir mexer nas lembranças viu que ainda haviam feridas que não estavam curadas.
Num instante, tudo ficou turvo. A mente de Joana foi invadida por um turbilhão de recordações. Ela lembrou quando Márcio na época do namoro prometia chegar determinada hora e se atrasava porque havia encontrado com os amigos e dedica-lhes tempo e atenção sem se preocupar com ela que estava em casa à sua espera. É verdade que naquela época ainda não existiam os telemóveis, mas se ele desejasse, bem podia fazer uma chamada telefónica.
Ela lembrou-se também das muitas vezes que saíram com os amigos de Márcio e eles ficaram a dizer as coisas que Márcio tinha feito na noite anterior. Como eles riam e diziam que ele a traía com outras mulheres. Neste momento, todo a alegria que Joana estava sentindo, todo o amor que estava a tomar conta de si foi esvaziando-se e de súbito ela foi se enchendo de raiva. Uma raiva incontrolável, que transformou sua alegria em tristeza. Uma vez mais ela sentiu-se enganada, iludida, pois naquele momento tão especial o marido estava a esquecer de falar das lutas, dos problemas que eles tiveram que vencer. Para ela, Márcio passou por cima de uma história construída com encontro e desencontros. Ela não esperou o programa pela continuação do programa. Como sempre, agiu momentaneamente, agiu colericamente só porque se deixou envolver pelas lembranças e não se deixou guiar pela recordação que traz à memória os factos, mas estes de modo agradável. A recordação não cria angústia e dor. A recordação busca apenas o essencial e era isto que Márcio estava a fazer.
Joana lembra dos momentos tristes e se angustia. Sofre novamente por algo que já não tem como ser vivido novamente. Ela também lembra dos seus erros, das vezes que agiu asperamente e criou situações embaraçosas que fizeram com que os dois discutissem e assim, deixassem de ter um bom fim de dia. Quantas vezes eles brigaram porque ela não quis sair com os amigos de Márcio?
Agora Joana percebe que fez com que muitos dos amigos de infância de Márcio fossem por ele desprezado, simplesmente porque ela não gostava deles. Agora que ela lembra disso, reconhece que não agiu da melhor maneira e sabe que até hoje há pessoas que Márcio gosta e não as procura por causa dela. Enquanto essa lembrança passa-lhe pela cabeça a raiva vai se dissipando. Ela agora é invadida por uma tristeza profunda, não por algo que o marido fez, mas pelo que ela fez.
O carro segue lentamente, o trânsito está terrível. Ela ouve na rádio que houve um acidente e é por causa do mesmo que o trânsito está tão lento. Contudo, sua cabeça está a 200 por hora. É naquele momento que ela toma a decisão de consertar as coisas, pois reconhece que o marido só será realmente feliz se puder se relacionar com os seus amigos de infância. Sendo assim, ela promete a si mesma que irá tratar de ser a ponte que irá juntar os amigos novamente.
É neste momento de transição que Joana toma a decisão que não há mais desencontros. Não há mais a dor da separação, pois a partir de agora ela lutará para unir o que ficou separado pelo tempo e por causa dela. Ela tem consciência que essa será uma luta muito difícil, porque os amigos de Márcio nutrem uma antipatia natural por ela. Ela foi responsável por isso, mas há alguns amigos que se relacionam com eles e será através deles que ela irá procurar refazer a ponte que ficou quebrada.
Tudo ficou claro na mente de Joana e ela sem notar grita: “Chega de desencontros!” Ela está decidida e agora fará o caminho inverso, porque na história deles aconteceram encontro e desencontros, porém, ela pegará os desencontros e os transformará em encontros.
Joana não havia percebido que Márcio recordava de todos aqueles momentos, pois eles eram importantíssimos para ele. Representavam muito para a sua vida. Contudo, enquanto o carro seguia lentamente, a mente de Joana corria pela memória e lembrava dos bons momentos que estavam a ser narrados ali no programa. Todos eles eram verdade, mas faltavam os momentos complicados que os dois passaram juntos. Na mente de Joana, Márcio falava apenas dos encontros e momentos maravilhosos. Ele estava a esquecer os desencontros, as lutas que os dois tiveram que travar. Apesar do êxtase do momento que está ser vivido naquele momento, Joana é transportada para o passado. Ela é levada não pela recordação, mas pela lembrança dos muitos momentos que ficaram armazenados e guardados em sua memória. E por causa disto mesmo, o momento único e belo, a surpresa que foi preparada pelo marido quase se torna num momento vazio, pois ao abrir a caixa das memórias, ao ir mexer nas lembranças viu que ainda haviam feridas que não estavam curadas.
Num instante, tudo ficou turvo. A mente de Joana foi invadida por um turbilhão de recordações. Ela lembrou quando Márcio na época do namoro prometia chegar determinada hora e se atrasava porque havia encontrado com os amigos e dedica-lhes tempo e atenção sem se preocupar com ela que estava em casa à sua espera. É verdade que naquela época ainda não existiam os telemóveis, mas se ele desejasse, bem podia fazer uma chamada telefónica.
Ela lembrou-se também das muitas vezes que saíram com os amigos de Márcio e eles ficaram a dizer as coisas que Márcio tinha feito na noite anterior. Como eles riam e diziam que ele a traía com outras mulheres. Neste momento, todo a alegria que Joana estava sentindo, todo o amor que estava a tomar conta de si foi esvaziando-se e de súbito ela foi se enchendo de raiva. Uma raiva incontrolável, que transformou sua alegria em tristeza. Uma vez mais ela sentiu-se enganada, iludida, pois naquele momento tão especial o marido estava a esquecer de falar das lutas, dos problemas que eles tiveram que vencer. Para ela, Márcio passou por cima de uma história construída com encontro e desencontros. Ela não esperou o programa pela continuação do programa. Como sempre, agiu momentaneamente, agiu colericamente só porque se deixou envolver pelas lembranças e não se deixou guiar pela recordação que traz à memória os factos, mas estes de modo agradável. A recordação não cria angústia e dor. A recordação busca apenas o essencial e era isto que Márcio estava a fazer.
Joana lembra dos momentos tristes e se angustia. Sofre novamente por algo que já não tem como ser vivido novamente. Ela também lembra dos seus erros, das vezes que agiu asperamente e criou situações embaraçosas que fizeram com que os dois discutissem e assim, deixassem de ter um bom fim de dia. Quantas vezes eles brigaram porque ela não quis sair com os amigos de Márcio?
Agora Joana percebe que fez com que muitos dos amigos de infância de Márcio fossem por ele desprezado, simplesmente porque ela não gostava deles. Agora que ela lembra disso, reconhece que não agiu da melhor maneira e sabe que até hoje há pessoas que Márcio gosta e não as procura por causa dela. Enquanto essa lembrança passa-lhe pela cabeça a raiva vai se dissipando. Ela agora é invadida por uma tristeza profunda, não por algo que o marido fez, mas pelo que ela fez.
O carro segue lentamente, o trânsito está terrível. Ela ouve na rádio que houve um acidente e é por causa do mesmo que o trânsito está tão lento. Contudo, sua cabeça está a 200 por hora. É naquele momento que ela toma a decisão de consertar as coisas, pois reconhece que o marido só será realmente feliz se puder se relacionar com os seus amigos de infância. Sendo assim, ela promete a si mesma que irá tratar de ser a ponte que irá juntar os amigos novamente.
É neste momento de transição que Joana toma a decisão que não há mais desencontros. Não há mais a dor da separação, pois a partir de agora ela lutará para unir o que ficou separado pelo tempo e por causa dela. Ela tem consciência que essa será uma luta muito difícil, porque os amigos de Márcio nutrem uma antipatia natural por ela. Ela foi responsável por isso, mas há alguns amigos que se relacionam com eles e será através deles que ela irá procurar refazer a ponte que ficou quebrada.
Tudo ficou claro na mente de Joana e ela sem notar grita: “Chega de desencontros!” Ela está decidida e agora fará o caminho inverso, porque na história deles aconteceram encontro e desencontros, porém, ela pegará os desencontros e os transformará em encontros.
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