Avançar para o conteúdo principal

DOR

Joana, falei da maior tristeza que o Márcio experimentou. Esta tristeza foi por causa do rompimento de vocês. A vida ficou sem graça, sem sentido. Márcio ficou desorientado. Por um lado corria atrás de ti, pois reconhecia que tu eras a mulher da vida dele. Queria passar a vida contigo. Entretanto, por outro, entregou-se completamente às loucuras da vida. Não havia limites para ele. Vivendo nesta dualidade, Márcio estava a ficar completamente destruído.
Este foi um tempo de muita dor. O estar separado de ti, não poder abraçar-te e beijar-te era terrível. Ele sofria calado. Por mais que insistisse, tentasse que vocês voltassem a namorar, tu não cedias. Permanecias irredutível a dizer que não havia possibilidade de vocês reatarem namoro. Contudo, ele não desistia, procurava-te, lutava para ter-te de volta. Contudo, em seu sofrimento por causa da tua irredutibilidade, sua dor aumentava. O sofrimento era atroz e na tentativa insana de aliviar o sofrimento entregava-se a outros braços a imaginar que eram os teus. Sendo assim, ele passou a viver uma mentira.
Na frente dos amigos ele procurava mostrar que estava tudo bem. Usava uma máscara e por isso, dizia que já não se importava. Já havia te esquecido. Ele fazia tudo isto, porque não desejava demonstrar seu sofrimento, sua dor e tristeza. Entretanto, quando estava sozinho, era traído pela lembrança e se via a pensar em ti. Tua imagem tomava conta da mente dele. Ele ficava preso, impossibilitado de fazer qualquer coisa a não ser reconhecer que eras tu a mulher da vida dele. Ele não podia fugir desta realidade. Não tinha como, pois por mais que tentasse, sempre a sua mente o conduzia a ti.
Tu eras aquela que dominava o coração dele. Ele tinha consciência de que teria que passar a vida ao teu lado. E foi isso mesmo que ele fez. Ele foi à tua procura e disse-te isso abertamente, mas tu permaneceste irredutível. Disseste que não podiam voltar a namorar. O Márcio não lembra mais as palavras utilizadas, mas recorda o momento e escolheu uma música que esclarece bem aquele momento onde ele falou que tu eras a razão da vida dele.
Para recordares aquela noite, o exacto instante em que ele declarou que tu eras a mulher da vida dele, a música que foi escolhida é cantada por Tim Maia. Ela fala do que tu representavas e representas. O título da música é “Você”. Espero que gostes, e que também gostes do cantor porque vamos ter uma sequência do Tim Maia. Escutaremos primeiro aquilo que tu representas, mas depois ouviremos o pedido para seres a namorada dele. A amada, mais que amada. A música é um clássico da bossa Nova, mas cantada na voz grave de Tim Maia fica mais bonita ainda. A música chama-se “Minha Namorada” e o melhor que temos que fazer agora é ouvir as músicas.
Inicia-se a música. Tim Maia canta. O carro segue seu fluxo e agora não tão lentamente como antes. Parece que o trânsito está a normalizar. Contudo, Joana está ali envolta em tudo aquilo que está a ouvir. Há situações que fazem parte do passado que ela não gostaria de lembrar e estão vindo à tona e não somente isso, estão sendo expostas a todas as pessoas. E os amigos que estão a ouvir o programa? E os parentes? O que eles dirão de tudo isso?
O facto é que ela não pode fazer nada. Márcio decidiu abrir toda a sua vida em público. Ele abriu o seu livro de recordações e através de um programa de rádio está expondo-o a todo gente, só que a coisas que Joana preferia que não fossem expostas. Há situações na vida que preferimos que ninguém saiba.
A primeira música é mais agitada. Ela até tem vontade de dançar, mas quando inicia a segunda, a voz melódica, o tom lento faz com que ela comesse a chorar novamente ao lembrar que passou mais de um ano a não querer reatar o namoro com o Márcio.
Neste momento, enquanto ouve a canção, ela chora a reconhecer que tudo o que tinha feito foi por orgulho. Ela está chorando porque sabe que desperdiçou um tempo precioso da sua vida e este poderia ter sido vivido ao lado daquele que veio a ser o seu marido. O que ela não entende é que as lágrimas não lavam o passado. Nada pode ser feito nada para modificar aquela situação. O que Joana devia perceber naquele momento é que, da mesma maneira que seu carro estava seguindo em frente, ela também deveria fazê-lo, pois todo o programa estava a ser feito não a olhar para o passado, mas a celebrar o presente.
Joana, tenho que reconhecer que o Márcio soube escolher as músicas. Eu não teria escolhido melhores. E olha que o meu trabalho é com música. Ele deve ter investido muito tempo para fazer esta playlist. Como é que não destes por ela?
Tu estavas irredutível. Recusavas sempre o pedido de namoro dele. Contudo, ele era insistente e persistente. Não abrandava e sempre estava ali presente a demonstrar que podias contar com ele. Ele sempre fazia uma chamada telefónica e quando ia desligar, dizia que te amava e isto era uma bomba de efeito retardado que na hora certa traria resultado. Para recordar estas muitas chamadas telefónicas, ouviremos a música de Stevie Wonder: “I just call to say I love you”.
As chamadas foram muitas. As tentativas para reatar o namoro inúmeras. Entretanto, tu preferiste não voltar atrás. Sendo assim, depois de três meses tu iniciaste uma nova relação. Foi numa noite de sábado. O que não contavas e muito menos esperavas era que o Márcio aparecesse neste noite em tua casa.
Foi nesta noite que ele sofreu a maior dor de sua vida. Seu coração foi dilacerado. Aconteceu um eclipse completo nele. Tudo ficou escuro. Não podia ser, tu estavas com outra pessoa, estavas em outros braços. A dor foi dilacerante. Ainda hoje é doloroso recordar este facto. Mas o Márcio não quer esconder nada. Ele deseja falar do que sentiu e como viveu a situação. Apesar da dor dilacerante, passado algum tempo, ele disse para si mesmo que se era assim que devias ser feliz, ele abria mão de ti, pois o verdadeiro amor liberta e nunca escraviza. Contudo, quando ele chegou em tua casa e ouviu que aceitavas namorar com aquele rapaz foi cruel. Ver-te beijá-lo então, foi ser invadido por um desejo de morte.
Não existem palavras para expressar aquele momento. Contudo, Márcio conseguiu duas músicas que falam do que ele viveu naquele momento. São estas músicas que ouviremos agora. Creio que isto far-te-á recordar aquele momento. Talvez consigas ver a dor estampada no rosto de Márcio e as lágrimas que lhe caíram pela face. Ouçamos portanto, Bonnie Tyler com “Total Eclipse of the Heart” e Fábio Júnior a cantar de Lupercínio Rodrigues “Nervos de Aço”. Foi necessário realmente ter nervos de aço para viver aquela situação. Volto logo depois das músicas.
Joana, tenho certeza que este foi um momento complicado. Creio que não gostarias de vê-lo exposto aqui. Mas o mesmo faz parte da tua história e ninguém poderá negá-lo ou mesmo apagá-lo. Contudo, o Márcio diz que apesar de ter passado por este momento tão doloroso, ele não abriu mão de ti e é por isso mesmo que temos este programa, pois o amor de vocês prevaleceu. Sendo assim, temos mais uma música para celebrar não a dor, mas o amor e a certeza de que tu jamais poderias ser substituída da vida dele.
Tenho que admitir que o Márcio tem um conhecimento muito vasto de música. Ele foi buscar raridades para te homenagear. A próxima música fala disto mesmo, pois é uma música antiga e o intérprete da mesma é completamente desconhecido nos dias actuais, mas a sua voz além de nos trazer paz e calma dá uma beleza muito maior ao amor que é declarado através da música por ele interpretada. Estou a falar de Nat King Cole e a música que ouviremos é “Unforgettable”. Há pessoas em nossas vidas que são inesquecíveis e tu és uma delas na vida do Márcio.
A dor sentida foi suprimida pela certeza de que o amor triunfaria. Hoje estamos a dizer justamente isso e pode crer que valeu a pena.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Lição do Pássaro

Minha casa está situada num lugar privilegiado. Estou dentro da cidade e ao mesmo tempo no campo. Na frente do prédio temos a agitação dos carros, mas nas traseiras tenho um monte que me coloca em contacto directo com a natureza. Sendo assim, outro dia estava a trabalhar no escritório, quando olhei da janela, vi um passarinho a cantar e despreocupadamente a alimentar-se com tudo o que o Senhor lhe providenciou. Foi a olhar para aquele pássaro que lembrei das palavras do Senhor Jesus: “Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?” (Mt 6.25-26). Que coisa extraordinária. Jesus nos direcciona o foco. As coisas não podem preencher à nossa mente. Ele afirma clar...

Reencontro

A doença do meu pai alterou os meus planos. Esperava ir ao Brasil com toda a família, para que meus filhos tivessem a oportunidade de conviver com os primos e tios. Entretanto, isto não foi possível. Viajei sozinho e com o coração apertado, pois tinha a convicção plena que seria a última vez que estaria com meu pai. Estava ansioso por chegar em Manaus. Minha querida cidade, a morada do sol. A cidade que eu trago guardada em meu coração. Fiquei surpreso com o seu desenvolvimento e crescimento. Vi que minha cidade mudou, já não a conheço. Tenho no meu imaginário a cidade dos meus tempos de adolescentes e início de juventude. Uma Manaus que não existe mais. Contudo, foi bom reencontrar-me com a minha terra, sentir o cheiro amazónico, poder saborear da culinária típica de lá. Quando chegamos em Manaus, eu e minhas irmãs, fomos para casa do nosso irmão. Ficamos todos juntos novamente. Depois de quinze anos nos reencontramos e infelizmente, o motivo é idêntico, pois quinze atrás estivemos ju...

APENAS O EVANGELHO E NADA MAIS QUE O EVANGELHO

José Régio tem um poema que me revejo cada vez mais nele. “Não vou por aí”. Confesso que esta é a declaração que faço para alguns que se dizem líderes religiosos, mas que não passam de comerciantes da fé. É impressionante o marketing que é feito e como há gente que aceita e segue os que se apresentam com títulos, ou até mesmo, que rasgaram o título e desejam apenas ser tratados por seus próprios nomes. Não vou por aí. Não sigo ideias malucas e promessas de prosperidade, onde apenas os líderes enriquecem, e o simples membro continua com sua vida regrada, apertada, para não dizer com a corda no pescoço. Não dá para seguir quem promete bênçãos e vende a fé e viaja em jato privado que está no nome da igreja ou de uma instituição, mas o membro comum não tem o direito de sequer entrar no tal avião que afinal, é da instituição que ele é membro e sendo assim, também um dos que tem direito de usufruir de tal bem. Não vou por aí e não tem como ir. Não dá para seguir líderes que tentam de...