Domingo é um dia especial. As famílias se reúnem para por a conversa em dia. É o dia dedicado à adoração a Deus. Neste dia paramos para reflectir sobre os ensinamentos do Senhor. Os líderes religiosos estão prontos para ministrar. Tudo o que estudara durante a semana vem à tona. É claro que todo bom líder deseja que as pessoas assimilem o ensinamento e sejam tocadas por aquelas palavras. Ele deseja que elas façam a diferença na vida dos seus liderados.
Falando da minha realidade penso que pastor tem que manifestar graça. Ele prega a graça de Deus e deve vivenciá-la no seu dia-a-dia. Contudo, muitas vezes o pastor precisa aprender a lição da graça. Há situações em que se faz necessário aprender que a graça se manifesta onde menos esperamos. Eu vivi esta realidade. Eu encontrei a graça onde tudo o que eu via era desgraça. Eu olhei e vi um trapo humano. Meu desejo foi fugir, pois não queria ter contacto algum com aquele ser repugnante. Logo eu que tinha terminado de falar na igreja que Deus não faz acepção de pessoas. Eu que afirmo que todos somos iguais. Mas no momento de viver o que prego, de aplicar a mensagem à minha própria vida não fui capaz.
Naquele momento, lembrei a mensagem que fora por mim proferida. Meu coração foi rasgado, chorei por dentro. Fiquei ali petrificado. Não conseguia mexer-me. Aquele homem desfigurado sorriu e dirigiu-se a mim. Aquele sorriso encheu-me de paz. Uma paz inexplicável. Já não era mais o trapo humano. Não via mais um pedaço de gente que estava carcomido pela lepra. Agora eu olhava e via alguém digno de ser considerado e amado. Seu sorriso cativou-me. Contudo, eu sangrava por dentro, porque eu não fui capaz de manifestar graça a ele e muito menos de tratá-lo como meu igual.
Ele aproximou-se e perguntou se eu poderia ajudá-lo com algum género alimentício. Como estava só em casa, entrei peguei o que podia, como que para desculpabilizar-me e fui levar para ele. Entretanto, fui buscar um Novo Testamento. Queria que ele conhecesse a Palavra de Deus e tivesse um encontro pessoal com Jesus. Mesmo tendo sido tão incoerente, ainda podia reverter a situação.
Lá vou eu. Entrego-lhe as coisas e ele sorri de satisfação. Digo-lhe que tinha algo muito mais importante. Falo do alimento eterno. Alimento que não perece. Dou-lhe o Novo Testamento. Ele estica os braços, pois já não tem os dedos da mão, e agarra-o depositando-o num saco. Ele abre um grande sorriso e diz: “Do outro lado eu vi o meu irmão na fé!” Mais uma vez meu coração é rasgado. A dor é atroz, não tem como explicar. Entretanto, ele sai alegre e satisfeito. Eu entro em casa a chorar por causa da minha atitude e fraqueza. Como posso pregar uma coisa e viver outra?
O pastor, o líder religioso que deveria manifestar a graça e vivê-la, age contrariamente ao que prega. Vive uma realidade, mas pede para que as pessoas tenham uma atitude completamente diferente da dele. Isso não pode ser. Eu olhei para aquele homem, não o vi como ser humano. Quis fugir por causa da sua doença. Olhei para alguém que estava completamente desgraçado, mas foi este desgraçado que ensinou o religioso o que é graça. Pois é, a graça se manifesta nos locais mais inesperados e através das pessoas que jamais imaginamos.
Eu com toda a minha teoria, com toda a minha formação fui um insensível. Entretanto, aquele homem desfigurado, carcomido pela sua doença ensinou-me que a graça é para aqueles que estão desfigurados e destruídos. A graça só é graça para os que estão desgraçados. Ela se manifesta para gente como eu, que está preso à letra. Pensa ser alguma coisa, mas na realidade, carece conhecer a graça pois está a viver em desgraça.
Domingo, dia especial. Eu em meu traje de religioso, como o sacerdote que descia de Jerusalém para Jericó, vi o maltrapilho e quis passar de largo, mas na realidade, o necessitado era eu e foi aquele a quem eu desprezava que me ensinou o que é graça. Foi no sorriso de um deformado que pude ver a maior manifestação da graça de Deus.
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