Avançar para o conteúdo principal

Feliz Aniversário




A chuva cai lentamente. Cai serena, suavemente qual lágrima que escorre pelo rosto. O céu está nublado e o dia vai ser cinzento. Hoje não é dia para festa. Não há como fazer celebração, apesar de ser um dia especial, tudo está cinzento à nossa volta.
Ah, essa melancolia é passageira. Ela faz parte do momento. Hoje se estivesse connosco seria dia de festa. É o teu aniversário e neste dia tínhamos que ter um churrasco bem preparado. Como gostavas da festa. Ficavas feliz em poder partilhar essa data com os parentes e amigos. Entretanto, já não estás aqui, agora e festa é nas alturas com o Rei dos reis, mas nós aqui, pobres mortais, lembramos este dia especial com os nossos ais.
A saudade aperta. O coração chora e sofre calado. É como a chuva que insiste em cair, mesmo que nós não a desejemos, pois agora estamos a desfrutar do calor do verão.
Cai a chuva lentamente como a lágrima que insiste em sair regando meu rosto expressando a saudade que bate forte em meu coração. Saudade que agora é alimentada pela esperança da chegada daquele grande dia em que todos estaremos juntos novamente.
A churrasqueira está apagada. Nela hoje não se faz fogo. Não há churrasco. O silêncio à volta dela mostra que a alegria que deveria ser vivida neste dia é apenas uma lembrança. Hoje recordamos a festa que ficou por fazer. Recordamos o teu sorriso e a tua expressão de contentamento se tu estivesses aqui connosco. Como gostavas deste momento. Eras todo sorriso. À volta da churrasqueira todos a celebrar, agradecendo a Deus pela tua vida. Entretanto, hoje a churrasqueira insiste em ficar apagada. Não há fogo e muito menos alegria. Os céus derramam lágrimas e nós juntamente com eles choramos pela tua ausência. Tu nos fazes muita falta.
A chuva cai miudinha e insiste em não passar. O dia está cinzento, sem alegria. Ele junta-se a nós para viver a saudade que estamos a sentir de ti. Não tenho vontade de fazer nada. Quero ficar quieto no meu canto, sem fazer nada. Vou ficar quieto a lembrar os momentos de celebração, a alegria que vivenciamos ao teu lado. Quero recordar momentos marcantes como aquele em que ainda vivíamos no Eldorado e o nosso querido Edilben Melo o eternizou com sua Polaroid. Como foi bom encontrar aquela foto e poder ver-te jovial e a sorrir cercado por muitas pessoas que tanto amavas e que também te amavam.
Como diz a canção: chove lá fora e aqui faz tanto frio. Não preciso pergunta aonde tu estás, pois eu bem sei onde estás. Contudo, a saudade de ti bate forte. Hoje queria ouvir-te com aquele jeito único a chamar-me pelo apelido carinhoso que tu me deste. Aliás, como gostavas de por apelidos em todos nós. O impressionante é que eles pegavam. Se hoje estivéssemos juntos, o Gordo era o responsável pelo churrasco. Nós estaríamos a sorrir e tu com aquele teu jeito brincalhão estavas a entrar com cada um de nós.
Meu pai, hoje não há festa. Não há brincadeiras. Os irmãos estão separados geograficamente. A família não irá se reunir para celebrar. Estamos tristes por tua partida e com o coração apertado, pois estamos a viver também a partida do Gidalte.
Chove lá fora, a terra fica toda molhada. Aqui dentro as lágrimas servem de chuva que molham o coração. Lágrimas de saudade que demonstram o amor e o respeito que nutri por ti. Hoje choro, mas também me alegro pois sei que já não sofres. Sei que estás bem e se não podemos celebrar este teu aniversário, podemos ficar tranquilos que há-de chegar o dia em que estaremos juntos em celebração constante. Hoje não há festa, não nos alegramos, pois não estás aqui, mas guardamos em nosso peito a esperança do nosso reencontro e por mais que a saudade insista em bater e doer, ela será amenizada e ficará a doce lembrança dos momentos maravilhosos que desfrutamos juntos, na expectativa do nosso reencontro.
A chuva cai suavemente lá fora. Ela cai lavando a tristeza e a saudade que toma conta do nosso ser. Ela cai suavemente lembrando-nos que a vida acontece no tempo certo na sua própria toada e não há nada que possamos fazer para mudar esta realidade. Contudo, mesmo sem poder mudar as coisas, podemos descansar nos braços daquele que tem tudo sob controlo. É confiados nEle que afirmamos que nada nem ninguém nos irá separar do amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor, mas também nada nem ninguém irá nos separar uns dos outros porque somos um em Cristo e nEle vivemos e com Ele reinaremos.
A chuva cai suavemente lá fora. A lágrima escorre pelo meu rosto lentamente, mas o sorriso brota, pois a tristeza pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer. E é bom amanhecer na certeza de que estamos seguros com o Senhor e que iremos nos juntar novamente.
Eu apenas quero desejar-te um feliz aniversário e dizer que te amo muito.
Um beijo do Rato, o teu filho mais novo.Com todo o meu amor.

Comentários

Miriam disse…
A saudade tem sido nossa companhia constante, mas temos a alegria de ter boas recordações da vida compartilhada com nossos queridos pais.
Beijos. Mireca

Mensagens populares deste blogue

APENAS O EVANGELHO E NADA MAIS QUE O EVANGELHO

José Régio tem um poema que me revejo cada vez mais nele. “Não vou por aí”. Confesso que esta é a declaração que faço para alguns que se dizem líderes religiosos, mas que não passam de comerciantes da fé. É impressionante o marketing que é feito e como há gente que aceita e segue os que se apresentam com títulos, ou até mesmo, que rasgaram o título e desejam apenas ser tratados por seus próprios nomes. Não vou por aí. Não sigo ideias malucas e promessas de prosperidade, onde apenas os líderes enriquecem, e o simples membro continua com sua vida regrada, apertada, para não dizer com a corda no pescoço. Não dá para seguir quem promete bênçãos e vende a fé e viaja em jato privado que está no nome da igreja ou de uma instituição, mas o membro comum não tem o direito de sequer entrar no tal avião que afinal, é da instituição que ele é membro e sendo assim, também um dos que tem direito de usufruir de tal bem. Não vou por aí e não tem como ir. Não dá para seguir líderes que tentam de

Aprendendo com as Mulheres

A igreja é um projecto divino. É um projecto unificador. Nele todos somos iguais, pois como afirmou Paulo: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.”(Gl 3.28). A igreja que vive esta realidade está disposta a aprender com todos os seus irmãos. Está disposta a valorizar os dons que o Senhor concedeu a determinado irmão para a edificação do corpo, sem importar se este é homem ou mulher. Tenho consciência que estou numa igreja assim, uma igreja que valoriza tudo e a todos sem fazer distinção se é homem ou mulher. Sendo assim, quero partilhar as lições que tenho aprendido com as mulheres, tanto na igreja como na Bíblia. No dia-a-dia, aprendo com as mulheres o facto de parar para estar aos pés do Senhor Jesus. É impressionante olhar para a Bíblia, principalmente no Novo Testamento, e ver as mulheres que se prostraram aos pés de Jesus. Elas pararam para adorá-Lo e para ouvirem os seus ensinamentos. Elas apenas queria

COMO DESTRUIR OS FILHOS

Filhos são um desafio. Eles são o grande investimento que alguém pode fazer. São a nossa continuidade e extensão do nosso ser. Filhos são um projeto de vida e para toda vida. O poeta Vinícius de Moraes escreveu: “Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-los? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como os queremos!” [1] Filhos são desejados, sonhados e amados. Filhos são o maior investimento que podemos fazer, mas filhos são um desafio para cada um de nós. Pensando no poema de Vinícius vejo as declarações de Bauman (Bauman, 2006) que diz: “Os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio pode fazer ao longo de toda a sua vida. (…) ter filhos é, na nossa época, uma questão de decisão, não um acidente - o que aumenta   a ansiedade. Tê-los ou não é, comprovadamente, a decisão de maior alcance e com maiores consequências que existe e, portanto, também a mais angustiante e stressante. Ter filhos significa avali